Centenário de Lucio Costa mobiliza meio cultural

Em livros, tese e mostra, o arquiteto do "engenho e da graça", autor do plano-piloto de Brasília, é relembrado em São Paulo e no Rio

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Por Agencia Estado
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O arquiteto Lucio Costa faria 100 anos amanhã. Um pensador, mais até que um artista, Costa foi autor do plano-piloto de Brasília, em 1957, e um dos grandes ideólogos de um modernismo essencialmente brasileiro. Um modernismo que embutisse uma nova maneira de conceber, projetar e construir, conjugando "engenho e graça, refinamento e rudeza, medida e paixão", segundo afirmou. "Não adianta perderem tempo à procura de pioneiros - arquitetura não é faroeste", escreveu Lúcio na Tribuna da Imprensa, em 1960, explicando que tinha apego igual e constante pelos monumentos antigos autênticos e pelas obras novas genuínas, "pois que são em essência a mesma coisa". O centenário do arquiteto, que morreu em 1998, mobiliza esforços em São Paulo e no Rio. Recentemente, a editora Cosac & Naïf publicou Sobre Lucio Costa, de Guilherme Wisnik. A filha do arquiteto, Maria Elisa, lançou no Rio o volume Com a Palavra, Lucio Costa, pela Aeroplano. O "livroclipe", como ela o chama, foi o primeiro lançamento da Casa de Lucio Costa, um centro de referência que deve ganhar uma sede este ano, no Cosme Velho (atualmente, funciona na casa de Maria Elisa). No Rio, inaugura-se no dia 7 uma mostra de seus rascunhos e estudos no Paço Imperial. A filha de Costa busca apoio também para lançar a terceira edição de Registro de uma Vivência, livro organizado pelo arquiteto em 1995. Para completar, na quinta-feira, o arquiteto Abílio Guerra defende tese de doutorado na USP sobre Costa. Segundo o arquiteto Lúcio Machado, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a importância de Costa estende-se por diversos campos. "Ele forneceu bases teóricas para o estudo da arquitetura, além de ter abordado a questão da preservação do patrimônio." Identidade nacional - Nascido em Toulon, França, em 27 de fevereiro de 1902, registrado na Embaixada Brasileira pelo pai almirante, Costa foi aluno da Escola Nacional de Belas Artes e seguiu inicialmente as lições de José Mariano Carneiro da Cunha, um dos responsáveis pela revalorização da arquitetura colonial do Rio. Nutria profunda admiração por Oscar Niemeyer, que comparava ao gênio barroco de Aleijadinho. Para a arquiteta e urbanista Regina Meyer, o que o Brasil deve a Lucio Costa "não é pouco". Segundo Regina, a busca do arquiteto, que evoluiu da pesquisa sobre o neocolonialismo dos anos 20 e 30 para o modernismo, também "empurrou" a classe arquitetônica para a frente. "Ele atuou num momento privilegiado, em que o Estado tentou responder ao anseio da procura de uma identidade nacional por meio da arquitetura." Para Lúcio Machado, Costa plantou balizas fundamentais do modernismo brasileiro com uma obra relativamente pequena, em edificações como o Parque Guinle, o pavilhão brasileiro em Nova York e um hotel em Friburgo, todas no Rio. "Além disso, foi o único arquiteto que fez uma cidade, seguindo estritamente os padrões dos CIAM (Conselhos Internacionais de Arquitetura Moderna)."

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