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Cemitério de Automóveis atua em SP

Durante 72 dias serão apresentadas 26 peças diferentes, a grande maioria de Mário Bortolotto, que também dirige e atua no Grupo Cemitério de Automóveis, por ele fundado em 1982, em Londrina

Por Agencia Estado
Atualização:

O dramaturgo, ator e diretor teatral Mário Bortolotto é um artista em constante atividade. Escreve em média quatro peças por ano. E as encena. Ele próprio as dirige e nelas atua com os demais atores do Grupo Cemitério de Automóveis, por ele fundado em 1982, em Londrina. Publicou três livros de coletâneas num total de 19 peças editadas. Há dois anos realizou no Centro Cultural São Paulo uma mostra com 14 peças, o que lhe valeu o Prêmio APCA/2000. Algumas delas como Nossa Vida não Vale um Chevrolet (Prêmio Shell/2000) e Diário das Crianças do Velho Quarteirão voltam a ser apresentadas, a partir desta terça-feira, na 2.ª Mostra Cemitério de Automóveis. A apresentação de Medusa de Rayban - texto vencedor do Prêmio Shell/1997 - abre nesta terça-feira a 2.ª mostra, novamente no porão CCSP. Durante 72 dias serão apresentadas 26 peças diferentes - 20 delas de autoria de Bortolotto. Outras quatro são adaptações por ele assinadas de romances ou contos de autores com os quais têm afinidade, como Marçal Aquino (Prêmio Jabuti/2000), de quem adapta contos de seu mais recente livro, Faroestes. A mostra marca ainda e estréia como autor de um dos atores do Grupo Cemitério de Automóveis, Joeli Pimentel. E também a estréia na direção da atriz e produtora da companhia Fernanda D´Umbra. Bortolotto dirige nada menos do que 21 textos. Elias Andreatto, Jairo Mattos, Marco Antônio Pâmio e Marcos Loureiro são os diretores de outras quatro. Tão notável quanto a capacidade de produzir intensamente é o talento de Bortolotto para agregar pessoas. Nada menos do que 80 atores, alguns dos melhores da cena teatral paulistana, participam da mostra - "todos trabalhando de graça", uma vez que o grupo não conseguiu patrocinadores. Entre eles estão Zecarlos Machado (Grupo Tapa), Jairo Mattos, Milhem Cortaz, Rodrigo Matheus (Cia. Circo Mínimo), Raul Barreto (Parlapatões) e Angela Dip, além do elenco fixo da companhia Cemitério de Automóveis - Bortolotto, Fernanda D´Umbra, Joeli Pimentel, Aline Abovsky, João Fábio Cabral e Wilton Andrade. A atriz e produtora Fernanda, que interpreta 17 personagens em toda a mostra, ressalta que o evento terá ingressos a preços populares, R$ 5,00. Um valor irrisório levando-se em conta que o grupo está investindo recursos próprios no aluguel de equipamentos de som e iluminação, não disponíveis no porão do CCSP. E dependem da bilheteria para recuperar o montante investido. "Nosso interesse é que as pessoas vejam todas as peças da mostra. Se um estudante, duro, se propuser a fazer isso - pagando meia entrada, R$ 2,50 - vai gastar R$ 75,00 em dois meses e meio. É bastante razoável. Se cobrarmos mais que isso, vamos impedir o acesso dessas pessoas" argumenta Fernanda. Proporcionar uma visão de conjunto dessa obra atualíssima nos temas e personagens é mesmo um dos maiores méritos do evento. O crítico Sebastião Milaré foi um dos raros que aproveitaram a primeira mostra para realizar uma interessante análise das peças apresentadas, estudo publicado no prefácio do 3.º volume das peças editadas de Bortolotto, que pode ser adquirido no CCSP, durante a mostra. A afinidade com a linguagem dos quadrinhos; a forte empatia provocada por personagens extraídos diretamente da realidade urbana; a força da "amizade" como valor que resiste num mundo onde as relações éticas e familiares estão degradadas; o horror ao pensamento de senso comum e ao lixo despejado nas rádios, bancas de jornais, telas de cinema e TV todos os dias pela indústria cultural são algumas das "constantes" apontadas por Milaré na obra de Bortolotto. "A técnica dramatúrgica de Bortolotto está claramente vinculada ao cartum. Desenha personagens e situações com traços vigorosos, esquemáticos, comunicando ao espectador instantaneamente fatos descarnados da narrativa. Não se perde em psicologismos. A exemplo dos bons e fortes cartunistas, caminha pelas sendas do non sense e do humor para invadir o território trágico, onde o destino humano é manipulado por invisíveis e insensíveis deuses", escreve Milaré. Durante todos os dias da mostra, o público poderá apreciar a exposição Ensaio nos Ensaios, uma série de fotos de Norberto Avelaneda captadas nos espetáculos e atualizadas a cada noite. O mesmo trabalho será realizado pelos videomakers Jorge Oliveira, Robson Timoteo, Marcelo Montenegro e Walter Figueiredo e o resultado será exibido, todas as noites, antes do início dos espetáculos. Serviço - 2.ª Mostra Cemitério de Automóveis. Estréia nesta terça-feira, Medusa de Rayban. Terça, às 21 horas. Até 23/7; estréia quarta, às 21 horas, Diário das Crianças do Velho Quarteirão. Quarta, às 19 horas. Ambas com texto e direção de Mário Bortolotto. Duração 70 minutos (cada uma). R$ 5,00. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3277-3611. Até 31/7.

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