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Cemin mostra a arte que produz pelo mundo afora

Artista gaúcho se diz em profunda sintonia com a autenticidade, e mostra seu trabalho partir de hoje na Galeria Brito Cimino

Por Agencia Estado
Atualização:

De tempos em tempos, o gaúcho de Cruz Alta, Saint Clair Cemin, volta-se para o Brasil e mostra por aqui o que anda produzindo pelo mundo afora. Não se pode dizer que essas mostras esporádicas tenham algo de panorâmico. São mais como instantâneos nos quais se vêem reproduzidas as principais questões que mobilizam o artista no momento: virtuosismo barroco em 96, mutações da forma em 2000 e 2003, com a transformação da cuia em elemento compositivo na 4.ª Bienal do Mercosul, são apenas elementos mais fortes que se sobressaem momentaneamente em processo de grande especulação criativa. "No meu trabalho é como se eu estivesse abrindo novas fronteiras o tempo todo. Volto a elas sempre, mas todos os anos quero descobrir algo que nunca explorei", explica o artista, que mostra a partir de hoje na Galeria Brito Cimino onde essa permanente experimentação - "de conceitos, materiais, referências históricas ou até caprichos pessoais" - o tem levado ultimamente. "Não é um resumo, sinto uma certa trepidação, uma certa inquietude nessa exposição", sintetiza. São poucas peças, com histórias bastante diferentes umas das outras. A mais impactante delas, que de certa maneira dá a tônica da exposição é Eu, um homem-espada (o punho é um auto-retrato não muito fiel do artista e o corpo uma navalha afiada prestes a cair sobre algo ou alguém) que tem uma fisionomia aterrorizada, misto de sofrimento e impotência diante do mundo e de si mesmo. Um retorno à dimensão narrativa e às referências sociais e psíquicas que o próprio Cemin vê como uma referência explícita à angustia, à ansiedade predominante nos nossos dias. Talvez esse mesmo sentimento de perplexidade ajude a explicar o fato de o artista, radicado nos Estados Unidos desde 1978, ter se mudado recentemente para Paris. Mas a mudança decorre também de razões profissionais, já que ele está produzindo um enorme relevo em bronze e outras peças complexas para a Maison de la Chasse et la Nature (Casa da Caça e da Natureza). O trânsito pelo mundo é tão natural para Cemin quanto a facilidade com que dialoga com as várias escolas, conceitos e técnicas. Além da França, dos Estados Unidos - onde tem um mercado cativo - e do Brasil, ele vai de tempos em tempos a Milão trabalhar numa fundição local e passa também temporadas na China. É lá que realiza as enormes peças em cobre martelado (uma delas, Orbes, está na mostra), lançando mão da sofisticada e difícil técnica oriental. "Quando chego em Pequim tenho um ateliê à minha disposição com 15 auxiliares muito bem formados em Belas Artes", conta, explicando por que vale a pena viajar tanto para trabalhar. É curioso que um artista que nasceu em meio à arte conceitual - um dos trabalhos da mostra, One and Many, é uma referência explícita e um desdobramento bem humorado do clássico One and Three Chairs, de Kosuth - tenha um apego tão grande à artesania. "Me bato há anos contra essa diferença entre o artesão e o artista. O grande prazer da arte é realmente fazê-la", diz ele, acrescentando ver a arte como "um instinto fundamental, assim como a linguagem". E é falando várias línguas, conciliando categorias aparentemente estanques, que ele criou os alicerces de sua produção. Além de aliar idéia e forma, outra aproximação que se faz sentir com força nessa mostra paulistana é a tentativa de conciliar o típico espírito provocativo e racional da arte conceitual com a força inconsciente da arte explorada pela escola surrealista e depois negada pelas gerações subseqüentes. Sem querer entrar no debate modernidade e pós-modernidade, Cemin se diz tributário da democracia total, o que teria dois efeitos imediatos: "Irritar as pessoas apegadas à hierarquia e fazer rir as pessoas que constatam esse andar por sobre categorias." Mas, apesar de fazer uso do humor (que associa sempre à idéia de transgressão social) nos comentários sobre sua própria obra, trata de esclarecer rapidamente que o fato de ter nascido no meio da arte conceitual e ter amadurecido seu trabalho em plenos Estados Unidos no auge da especulação pós-modernista, sua produção de certa forma ainda é tributária das categorias mais autênticas do modernismo: "Estou em profunda sintonia com a autenticidade, a verdade dos materiais e essa busca de algo mais fundamental do que a aparência", resume. Saint Clair Cemin. Galeria Brito Cimino. Rua Gomes de Carvalho, 842, Vila Olímpia, 3842-0634. 3.ª a 6.ª, 11 h às 19 h (sáb. até 17 h). Até 17/6

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