
28 de julho de 2013 | 07h29
– O meu não só mostra quem está chamando como avisa se for um chato.
– O meu – diz outro – acessa a internet, faz café, dá palpites para jogar na Sena e o tempo que faz no Himalaia.
O terceiro:
– O meu é gravador, relógio, câmera fotográfica e granada de mão, e ainda faz logaritmos.
O quarto:
– O meu codifica, decodifica e toca o hino nacional.
Os outros três se intercalam:
– O meu imita passarinho e dá o diretor, os roteiristas e o elenco completo de 17 mil filmes.
– O meu dá a escalação de todas as seleções do mundo desde que inventaram o futebol e o resumo de todas as óperas.
– O meu é despertador, desfibrilador e termômetro, além de mostrar imagens de Marte.
– E o meu? E o meu? – diz o quinto, que até então permanecera em silêncio.
– O seu o que faz?
– O meu – diz o quinto – me ama.
Na Transilvânia. (Da série Poesia numa Hora Dessas?!)
Ele flana pelos corredores do castelo
como um par de olheiras sobre
patins
com a tinta escorrendo dos cabelos
a boca roxa, as mãos nos rins.
Às vezes para porque ouviu seu
nome:
“Drakuuul”, longe, “Drakuuul”
Mas é só o som do vento gelado
ou de um lobo desgarrado.
Pede “Virgens!” e dão risada
pede “Sangue!” e lhe trazem laranjada.
Bolachas ou coisas vivas?
“Monsieur le Compte, suas gengivas!”
Ele desliza pelos corredores
sonhando com pescoços latejantes
pensando em velhas conquistas
e em abrir o térreo para turistas.
“Drakuuul!”, longe, “Drakuuul!”
Mas é sempre só um lobo anônimo.
Ou, possivelmente, um lobo irônico.
Manifestações. O esquerdista e o reacionário não se viam há tempo e no outro dia se encontraram.
– Ó, rapaz. Você por aqui.
– Pois é, estou indo para uma manifestação.
– Não diga. Eu também!
– Coincidência, duas manifestações ao mesmo tempo. Se conheço você bem, a sua é de esquerdistas. Posso até adivinhar o que vão reivindicar.
– E se eu conheço você, sei exatamente o que vão pedir.
– Onde é a sua manifestação?
– Vamos nos reunir na frente da prefeitura e depois...
– Epa! Nós também. Estamos indo para a mesma manifestação!
– Impossível. Um de nós dois está indo para a manifestação errada.
– Bom, lá a gente vê. Aceita uma carona?
– Sei não...
– Sem compromisso.
– Então vamos.
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