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Célia Euvaldo expõe suas pinturas corporais

Por Agencia Estado
Atualização:

Vassoura e rodo, tinta preta sobre a tela branca. Simplesmente o preto no branco. No máximo em três dias, a artista plástica paulistana Célia Euvaldo compõe suas obras bicolores que têm como tema principal a questão da própria pintura. Seis desses trabalhos em grande porte produzidos neste ano estão reunidos, até o dia 17 de novembro, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, em São Paulo. Durante muitos anos, Célia fazia desenhos sobre papel de grandes formatos, basicamente linhas pretas sobre o papel branco. "Como mostrava o rastro do traço, não fazia sentido fazer em outra cor a não ser o preto", diz a artista. Mas com o tempo, Célia cansou-se do que estava produzindo e começou a procurar um outro suporte. Chegou às telas, geralmente de grandes dimensões, para dar continuidade ao desenho. Com o trabalho, Célia topou com uma outra questão: a da pintura. "Antes era um desenho sobre a tela, mas agora o preto ocupa quase a tela inteira." A tinta a óleo preta não forma desenhos e sim uma massa que a artista vai trabalhando com a vassoura (já que não existe um grande pincel) e o rodo que funciona como uma espátula para alisar a massa de tinta oleosa. A partir disso, Célia, com gestos "quebrados, controlados", vai formando suas pinturas corporais que, segundo a artista, não poderiam ser de outra cor para não remeter a outros elementos, a outras idéias, figuras ou mesmo à geometria. Desse modo, suas obras não têm título, tampouco sua exposição. A única referência com a qual a artista concorda é a que foi feita por Lorenzo Mammì no texto do catálogo: os rastros estriados de um jardim de areia japonês. Os grandes formatos das telas (2 m x 1,8 m e 2,7 m x 2 m) são para realçar o esforço corporal necessário para produzir as obras. "Esse trabalho é mais do que gestual, é corporal", afirma. Célia disse que quando fez em pequenos formatos achou o resultado "frouxo" já que não sinalizavam nenhum tipo de "esforço corporal". Quando ela inicia alguma obra, não há estudo prévio, vai apenas enchendo de preto com a vassoura e depois organizando a tinta entre a vassourada e o rodo que alisa ou arrasta a tinta. Segundo a análise de Mammì, essa "perda de direção estabelecida desencadeia, então, um caráter mais imediatamente sensório: libera, dentro da escuridão, a potência da cor". Outro dado interessante é o branco que sobra nos cantos da tela, uma referência à questão sobre fundo e forma levantada com a arte moderna. "O branco é neutro e mostra até onde o preto foi", explica. Como complementa Mammì, as áreas brancas "continuam sendo fundo, mas deixaram de ser mero suporte. Funcionam mais como uma espécie de contracanto, que compensa e refreia o movimento das linhas. O branco também, agora, possui a própria vontade". Célia Euvaldo. De segunda-feira a sexta-feira das 10 às 19 horas; sábado, das 11 às 14 horas. Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Rua Arthur de Azevedo, 401, em São Paulo, tel. (11) 3083-6322. Até 17/11.

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