A obra densa e enigmática de Farnese de Andrade ganha agora uma grande e merecida exposição no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio. Farnese: Objetos, com curadoria do editor e historiador Charles Cosac, abre hoje para o público ao lado da mostra do catalão Antoni Tápies e reúne 126 obras realizadas pelo artista mineiro de Araguari morto em 1996, aos 70 anos. Em abril a mostra chega a São Paulo, depois segue para Curitiba e talvez seja apresentada também no Texas. O trabalho de Farnese é singular, tendo como força motriz o viés autobiográfico. Os mesmos temas, símbolos e materiais são recorrentes em seu processo de criação contínuo, revelando-nos um universo ensimesmado, mas, ao mesmo tempo, universal. Oratórios, armários, caixas, arredomas de resina, gamelas são as bases de estranhas assemblages feitas com simbologia encontrada pelo artista: cabeças de boneca, imagens sacras, ex-votos, fotografias resinadas, conchas, lentes para alterar objetos, a forma de ovo e pedaços de móveis, por exemplo. Nascido em Minas, Farnese encontrou no Rio, no mar, a sua liberdade. Nos temas religiosos e sobre a família é como se usasse e rejeitasse as bases e lugares de sua formação. Em muitas das obras, há a pesada figura da mãe - com quem viveu a vida inteira; do pai, "figura platônica"; e o erótico. Nas poucas vezes que saiu de seu universo, fez obras sobre Hiroshima e o desmatamento. Em Minas, Farnese estudou desenho com Guignard, mas essa faceta não está na exposição. Escolha do curador, que não quis fazer uma retrospectiva para assim dar outras oportunidades de leituras futuras.