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Caubói blasé satirizava o Velho Oeste

O solitário e patético Lucky Luke, criado pelo belga Maurice de Bevere, que morreu nesta semana, debochava de um dos maiores mitos da cultura americana

Por Agencia Estado
Atualização:

Morreu em Bruxelas o quadrinhista belga Maurice de Bevere, autor de um dos mais populares personagens de quadrinhos do mundo, o caubói Lucky Luke. A Dargaud, editora de Bevere (que era conhecido apenas como Morris), informou que ele morreu aos 77 anos no dia 16. Morris não criou apenas Lucky Luke, mas seu caubói blasé - uma sátira escrachada do Velho Oeste americano e seus códigos rígidos de moral - tornou-se um ídolo instântaneo quando foi criado, em 1946. Com um cigarro sempre pendendo do canto da boca (isso mudou depois de pressões dos grupos antitabagistas), capaz de fazer duelos com a própria sombra e acompanhado sempre pelo cão Rantanplan ("O cão mais estúpido do Oeste, senão de todo o mundo"), Lucky fez escola. Como Asterix para os franceses, Lucky investe contra um dos mitos da cultura americana embora se valha dele para existir. Escarneceu das lendas de Billy the Kid e dos irmãos Dalton, Jesse James, das cantorias de Sarah Bernhardt e por aí vai. Solitário, frio e patético, Lucky chegou a ser encarnado no cinema pelo ator italiano Terence Hill. Morris pensou da seguinte maneira: o que dizer de sujeitos que andam sozinhos no deserto noites a fio, acompanhados apenas de seu cavalo, falam pouco e atiram uns nos outros somente porque fulano olhou feio? Os caubóis americanos não são sérios, concluiu o belga, e resolveu tirar um sarro. Essa é a essência de Lucky Luke, o Luke Sortudo, que tem como melhor amigo seu cavalo Jolly Jumper (que não fala, mas tem grande consciência da enrascada em que se meteu). A dupla apareceu pela primeira vez na revista Spirou, em 1947. Em Bruxelas, no Musée de la Bande Dessinée, Lucky é o personagem mais paparicado pelos compatriotas, mas não é um local hero. Não há um só garoto europeu que não tenha se divertido com seus álbuns, publicados ininterruptamente desde o pós-guerra. As primeiras histórias eram feitas em colaboração com René Goscinny, parceiro de Albert Uderzo em Asterix. O sucesso foi tanto que, nos anos 50, a vanguarda nova-iorquina dos comics (leia-se Harvey Kurtzman) convidou Morris para juntar-se à tribo dos desenhistas na América. Os "meliantes" Irmãos Dalton, Jane Calamidade e toda Nugget City estão de luto. Morris foi um doce fanfarrão.

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