– Que coisa triste – diz o homem.
– O quê?
– O que postaram aqui no meu celular. Um casal numa mesa de restaurante, os dois entretidos com seu celular e nem se olhando.
– Deixa ver...
O homem vira a celular para a mulher ver.
– Triste mesmo. Serão casados?
– Certamente. Namorados não ficam assim. Se fossem namorados estariam de mãos dadas, olhos nos olhos. São casados. E há tempo.
– Como é que um casal chega a esse ponto? Cada um no seu mundo, longe um do outro...
– Talvez tenham brigado.
– Você acha? Acho que não. Acho que é puro tédio.
– Você tem razão. Tédio. Tédio terminal. Eles não têm mais sobre o que conversar. Já disseram tudo que tinham para dizer, um pro outro.
– Eles não têm mais ilusões a respeito do casamento. Foi bom enquanto durou, agora eles estão só cumprindo a tabela. O amor acabou. Foi cada um para um lado, mas continuam juntos. Talvez por causa das crianças.
– Imagina como será a volta deles para casa. No carro, ela pergunta “o que você achou da comida?” e ele diz “Ahn...”.
– “Ahn”, você acha?
– Não. Não dirão nada. Nem no carro nem em casa.
– Será que eles ainda fazem sexo?
– Não. Usam o celular. Se deitam na cama lado a lado e ele liga para o celular dela. E pergunta “Você está com vontade?” E ela diz....
– “Ahn.”
– O quê?
“Ahn.” Significando nada. Nem sim nem não. O som do tédio. O som do amor se esvaziando, como um balão de aniversário. Isso se ela não imitar a voz da operadora e disser “sua mensagem está sendo encaminhada para a caixa postal e estará sujeita a cobrança após o sinal”. O que significará que já estão na fase do sarcasmo, que precede o rompimento total.
– Triste, triste.
– Escuta... E se este for o último jantar deles, antes que um mate o outro?
– Será?
– Eles se odeiam. Não podem mais se ver. Hoje mesmo, um vai matar, o outro vai morrer.
– E as crianças?
– Quem disse que eles têm crianças? Ou ele mata ela, ou ela... Espera um pouquinho
– Que foi?
– Agora vi o homem com mais clareza... E sou eu!
– Você?!
– E a mulher é você! Nos filmaram aqui nos restaurante e me mandaram o filme pelo celular.
– Quem foi?
– Sei lá. Já deve ter ido embora.
– De qualquer jeito, foi bom isto ter acontecido. Fazia tanto tempo que a gente não conversava, né?