Casa de Criadores e a transgressão dos novatos

Na 19.ª edição alguns estilistas fizeram desfiles impecáveis, chamativos e malucos

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Na 19.ª edição da Casa de Criadores não bastou aos estilistas vestirem a carapuça de "novos talentos" e sair experimentando na passarela. Jovens e tremendamente competentes como Walério Araújo, Carol Martins (da Madalena), Patrícia Grejanin (da Laundry), Moshe e o estreante Marcelu Ferraz deram de ombros para as chamadas "tendências para a próxima estação" e fizeram desfiles impecáveis, chamativos e malucos, propondo uma temporada heterogênea em tecidos, cores, estampas e formas. A maratona de moda embaixo do Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, começou no domingo, com desfiles performáticos, e terminou na quarta-feira. Dizem que lavanda será a cor do inverno, com o marrom e o verde-musgo. Mas a Laundry, que foi à passarela na quarta-feira, ousou num desfile totalmente preto, com uma ou outra concessão ao branco. E se a silhueta da próxima estação é enxuta, como ficou demonstrado nos desfiles da última São Paulo Fashion Week, a de Patrícia será godê, em vestidos inspirados no universo do cineasta Tim Burton. Fiel ao perfil rocker, a marca reeditou seus próprios hits, como as camisetinhas com amarrações e os shorts de cintura alta, em veludo. Os anos 80 parecem ser a época preferida dos estilistas da Casa, que vira-e-mexe voltam à tal década classificada como perdida - imagina se não fosse. A Coletivo foi quase "Blade Runner", em composições de cores fortes - como o amarelo-ouro com o xadrez branco e preto - e uma série de capas de vinil em trapézio, muito graciosas. Cher, Elke Maravilha e Maria Bonita inspiram a moda Carol Martins mostrou vestidões amplos, o melhor da sua Madalena. A coleção brinca com o clima instável de São Paulo, e propõe "looks cebola" - para aqueles dias em que todas as estações do ano se manifestam. E usa marrom e rosa, azuis mil e até um pouco de flúor em modelos bem femininos, com cascata de babados e decotes que vão ao centro da Terra, vertiginosos. Nesta edição, não se pode deixar de criticar o deslocamento de alguns desfiles para a Sala Prestes Maia, improvisada na galeria, o que causou certa confusão. Houve também o desfile da Puma, a patrocinadora. Foi bonito e cheio de "celebridades". Mas por que uma marca consagrada desfila num evento como aquele, sob o risco de tirar os holofotes do novo estilista, é um mistério do marketing. Mesmo assim, merece nota o sucesso de público - a platéia estava cheia, com gente até sentada no chão. Um público que não se constrange em delirar diante de coleções como a de Walério Araújo. Inspirado por mulheres como Cher, Elke Maravilha Maria Bonita e até a ex-primeira-dama Rosane Collor, ele mostrou na segunda-feira uma série de vestidos ecléticos e luxuosos, sempre bonitos. Causou furor, não se falava em outra coisa. Até entrar o deus disco-polar de Moshe, o último a desfilar. Uma coleção divertida, inspirada no grupo Jamiroquai, entre o street e o sport. O time de modelos era tão deslumbrante, que a platéia, histérica, quase não presta atenção na roupa. Tanto é que, em pleno ano de Copa, Moshe levou à passarela uma camiseta que parecia da seleção argentina. Ninguém vaiou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.