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Cartunista de Batman e Robin chega domingo a SP

Aos 77 anos, Jerry Robinson, o criador do Coringa, Mulher-Gato e Pingüim, vem ao País acompanhar a estréia do documentário brasileiro Jerry Robinson - A Vida após Batman. E aproveita para questionar a humanização dos heróis clássicos

Por Agencia Estado
Atualização:

Chega neste domingo a São Paulo o veterano cartunista americano Jerry Robinson, de 77 anos, o primeiro desenhista das histórias do Batman e seu parceiro Robin e criador de personagens consagrados dos comics, como o Coringa, a Mulher-Gato, Duas Caras e o Pingüim. Robinson vem para o lançamento do documentário Jerry Robinson - A Vida após Batman, realizado pela produtora carioca Scriptorium. O filme terá estréia mundial no dia 1.º na S-TV (Rede Sesc/Senac de Televisão). Antes do lançamento, Robinson comandará pré-estréias no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em São Paulo, na terça, ele estará no Cinesesc. No dia 5, vai à Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, às 18h30, e participará de debate após a exibição do filme (apenas para convidados). O documentário integra a série Profissão Cartunista e é o segundo da Scriptorium com os artistas da era de ouro dos comics americanos. O primeiro foi Will Eisner, o genial criador do Spirit. Por telefone, de seu escritório em Nova York, Robinson concedeu a seguinte entrevista. Agência Estado - Como presidente do Cartoonist & Writers Syndicate, o sr. acredita que a situação para os artistas dos quadrinhos é melhor hoje do que em 1940, quando o sr. começou sua carreira? Jerry Robinson - Sem dúvida a principal mudança foi em relação à forma de se produzir comics, mas há mudanças também no mercado. Eu poderia dizer que, em geral, é um tempo muito estimulante para os comics. Muitos novos artistas se sentem encorajados a arriscar-se com as novas tecnologias. Stan Lee, grande pioneiro dos comics, acaba de criar a Stan Lee Media para lançar novos personagens na Internet. Essa é uma perspectiva que agrada ao sr.? Lee é um grande amigo meu, trabalhei durante dez anos com ele, criando personagens e histórias. Ele é muito criativo e eu penso que isso significa um novo desafio, não só para Stan. Mas eu ainda prefiro o velho caminho, o livro, o álbum, a banca de jornais, a livraria. Penso que ainda é melhor que a Internet. Penso que a rede está caminhando para ser um outro fenômeno. Cito o meu exemplo. Nosso sindicato reúne cerca de 500 cartunistas em 50 países e nós nos comunicamos todo dia por e-mail. E, por causa da Internet, nós conseguimos distribuir um cartum no mesmo dia em que ele nos é entregue, em qualquer país. É uma grande forma de comunicação. E também de colaboração. Um dos nossos artistas criou um novo personagem, uma nova heroína chamada Astra. Ela virou tema de musical, com 30 canções. Vista no Japão, foi adaptada por artistas japoneses e transformou-se num sucesso lá. E agora está sendo adaptada para o inglês. É um nível de integração jamais visto antes. Esse sistema deve trazer um bocado de problemas com direitos autorais também, não? Os problemas de copyright sempre existiram, mas há uma convenção internacional de direitos autorais. O que os autores têm de fazer é lutar pelos seus direitos. A Internet pode acelerar a compreensão desses direitos também e criar sistemas de colaboração para a fiscalização entre os países. Por que o sr. escolheu uma produtora brasileira para fazer um documentário sobre sua carreira? Na verdade, eles é que me escolheram (risos). Eu conheci esses produtores na primeira vez que fui ao Brasil, em 1992. Fui para uma exposição das Nações Unidas no Rio de Janeiro. E eu encontrei Marisa (Furtado, da Scriptorium). Uma mulher brilhante. Em outras ocasiões, fui convidado para festivais em Belo Horizonte e no Recife, organizado por Leo, um sujeito maravilhoso. Estive várias vezes aí e Marisa me contou que tinha escolhido um grande amigo meu, Will Eisner, o criador do Spirit, para fazer um filme sobre sua carreira. Quando estive no Brasil, eles me entrevistaram para o filme sobre Eisner. Eu vi o resultado, ficou muito bem-feito e, quando eles me perguntaram em meu estúdio em Nova York se queria ser o próximo, eu concordei. Eu tenho bastante admiradores no Brasil e também grandes amigos, como Ziraldo, os irmãos Caruso, Álvaro de Moya, Enrique Lipstick, Nicolielo. Quais eram suas principais influências quando começou a desenhar o Batman? Bem, eu comecei muito jovem, com 17 anos. Estava no colégio e precisava de dinheiro para continuar meus estudos. Queria ser jornalista. Eu não sabia bem o que fazia. É verdade a história de que Robin foi criado sob inspiração de Robin Hood? A idéia do garoto foi de Bill Finger, outro artista daquela época, o melhor escritor dos comics. O nome e as roupas foram inspirados em Robin Hood. Foi sugestão minha porque eu era, desde a infância, um grande admirador de Robin Hood. E também uma forma de homenagear a mim mesmo, já que eu sou Robinson. E o Coringa? O Coringa veio algum tempo depois. Eu tinha idéia de criar um novo tipo de vilão para os gibis, que trouxesse também algum senso de humor e representasse um confronto constante para o Batman. Era uma época em que eu lia no colégio histórias sobre vilões memoráveis na Bíblia, na mitologia, havia Sherlock Holmes e Moriarty. Hoje em dia, os filmes sobre o Batman exploram mais as contradições de sua personalidade. Batman é um personagem convulsivo, esquizofrênico. E há também muita dubiedade sexual entre Batman, Robin e os vilões. Como o sr. vê isso? As histórias de hoje são bem diferentes de quando nós criamos esses personagens. Nós tentamos dar uma pequena conotação sensual à Mulher-Gato, por exemplo, fazer dela uma mulher atraente. Mas não uma vamp, como é hoje em dia. Com o passar dos tempos, novos desenhistas e escritores foram inserindo novas características nos personagens, mais psicologismos, mais pontos fracos. Foram sendo mais humanizados. De certa forma, para contar histórias isso pode ser bom e pode não ser bom, porque heróis são heróis. De qualquer modo, isso pode ser mais adequado aos dias de hoje, mas não era apropriado para aquele começo.

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