Cartas de Van Gogh revelam um artista racional

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Por Catherine Hornby

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AMSTERDÃ (Reuters Life!) - Centenas de cartas de Vincent Van Gogh foram colocadas ao lado das obras de arte que ele discutia em sua correspondência em uma nova publicação, que traça o retrato mais claro até hoje das reflexões por trás do trabalho do artista holandês.

Fruto de 15 anos de pesquisas, a edição de seis volumes inclui 900 cartas escritas por e para Van Gogh, além de esboços de pinturas nas quais ele estava trabalhando quando escreveu as cartas e também ilustrações de mais de 2.000 obras de arte.

"Pela primeira vez, você lê as cartas e ao mesmo tempo vê o mundo visual que Van Gogh tinha na mente," disse Axel Ruger, diretor do Museu Van Gogh.

"Como artista autodidata, ele buscava constantemente se aperfeiçoar, e isso se reflete nas cartas."

Simultaneamente ao lançamento da publicação, o museu vai expor algumas das cartas originais, raramente expostas devido a sua fragilidade, de forma que os visitantes podem vislumbrar o trabalho em andamento do autor e comparar esboços nas cartas com suas pinturas.

Depois de estudar as cartas de Van Gogh tão intensamente, o curador Leo Jansen disse que elas trouxeram à tona um lado metódico e disciplinado do artista, que é mais comumente visto como uma alma atormentada que passou sua vida lutando contra problemas de saúde mental.

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"Parece que ele realmente foi um homem muito racional, não o gênio louco que conhecemos," disse Jansen. "Ele tinha plena consciência do que fazia, escolhia suas metas e tentava alcançá-las passo a passo."

O estudo das cartas lado a lado com as pinturas e os desenhos de Van Gogh também ajuda a transmitir a conexão estreita que, para o artista, existia entre a arte visual e a literatura.

"Livros, realidade e arte são todos a mesma coisa para mim," escreveu Van Gogh em carta a seu irmão Theo em 1883.

"Você não acha que é tão interessante e difícil dizer algo bem quanto pintá-lo?," escreveu em 1888 ao colega artista Emile Bernard.

Versões do livro estão sendo publicadas em inglês, francês e holandês, e uma edição na Internet também traz novas traduções para o inglês.

Como muitos outros artistas, Van Gogh viveu pobre e em grande medida ignorado. Depois de morto, foi reconhecido como artista revolucionário cuja influência se estendeu ao século 20.

Grande parte de sua correspondência é composta de cartas que ele escreveu a seu irmão mais jovem, um marchand que vivia em Paris e lhe dava ajuda financeira. Van Gogh descrevia as coisas nas quais estava trabalhando e muitas vezes enviava esboços de seus projetos mais recentes.

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"Ele escrevia quase diariamente a seu irmão e confidente Theo. Naquela época isso era normal, na ausência de telefone ou e-mail, cartas eram o meio de comunicação mais óbvio," disse Ruger.

Escritas originalmente em holandês e francês, as cartas também incluem a correspondência do artista com outros familiares e com artistas contemporâneos como Paul Gauguin. Mas apenas 80 delas são cartas escritas por outros a Van Gogh.

"É uma correspondência ligeiramente unilateral," disse Ruger. "Podemos dizer que é uma tragédia que tão poucas cartas escritas a Van Gogh tenham sobrevivido."

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