Carta a Hilda Hilst

Consagrada como poeta, novelista e dramaturga, a autora paulista teve produção analisada pela amiga e colega de ofício

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Por Lygia Fagundes Telles
Atualização:

A primeira lembrança que guardo de você e que neste instante me ocorre tão nítida, tão límpida, tem como cenário a antiga sala de chá do Mappin: as mesinhas com suas toalhas engomadas (verão de 1950) e o cheiro quente de brioche ao som de uma orquestra com violinos, principalmente violinos no estrado redondo, recoberto com um tapete de veludo vermelho. Uma mesa maior me homenageava, era moda oferecer chá a escritores e até a políticos. Quando você se levantou para me saudar, os violinos valsantes fizeram uma pausa. Então Guilherme de Almeida, sentado a minha direita, murmurou ajustando no olho o seu monóculo: "Veja, ela é frágil como um galho de avenca." (...) E você, a camisa de tricoline branca, os punhos largos, os pulsos finos, o cabelo louro todo puxado para trás e preso na nuca por uma fivela, dourada a face da juventude intacta."Sou poeta", confessou-me com um tranquilo orgulho não destituído de um certo pudor. E ainda Guilherme de Almeida, guardando o monóculo e sorrindo, observou: "A palavra poetisa deve estar meio desmoralizada, quando a poetisa é mesmo séria, se diz poeta. Poetisa virou declamadora..."Sua poesia. Hilda. Perplexidade no início com um sabor um tanto áspero de fruto colhido às pressas, a graça de uma poesia se encantando e se desencantando com o amor ainda verde, jogo de busca e perda no qual você se empenhou em vida e verso. O processo de amadurecimento acompanhado passo a passo o tema maior, humano e transcendente - ah, Hilda, com que força o amor inspirou e sustentou seu verso lírico autêntico, sem máscara porque foi de arte. (...)Partindo da realidade para a ficção não só na poesia mas também na dramaturgia e novelística, você ensaia os primeiros esboços metafísicos nos Sete Cantos do Poeta para o Anjo - sete voos entremeados de quedas na experiência do amor que anuncia amor total no encontro com Deus. (...)"É raro encontrar no Brasil e no mundo escritores, ainda mais neste tempo de especializações, que experimentam cultivar os três gêneros fundamentais da literatura - a poesia lírica a dramaturgia e a prosa narrativa - alcançando resultados notáveis nos três campos. A este grupo pequeno pertence Hilda Hilst" - eis como Anatol Rosenfeld inicia o prefácio de FLUXO FLOEMA e que enfeixa cinco novelas exemplares como linguagem e temática.Leia a íntegra deste texto no estadão.com.br/e/s4

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