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"Carmen" abre Festival de Ópera em Belém

Na montagem que abre o Festival de Ópera do Theatro da Paz, o que se vê não é a história de um amor fatal, e sim uma história de inveja

Por Agencia Estado
Atualização:

Carmen é uma das mais conhecidas personagens da história da ópera. Cantá-la é sempre um marco para qualquer atriz/cantora- há todo um universo quase místico em torno de sua figura. Denise de Freitas aceitou o desafio de interpretá-la pela primeira vez, na montagem que abre hoje o Festival de Ópera do Theatro da Paz. Mas, nessa versão, Carmen está longe de ser uma história de amor fatal. A trama é conhecida - o soldado D. José troca o casamento com a jovem e inocente Micaela pela paixão incontrolável pela cigana Carmen. Quando ela o troca pelo toureiro Escamillo, D. José a mata. O amor vira ódio. Na concepção do diretor Cleber Papa, porém, tendo como fundo uma Sevilha medíocre, recriada nos inteligentes cenários de David Higgins, o que se está narrando não é uma história de amor, mas de inveja. Longe da sedutora livre, Carmen é uma mulher infeliz. Ela inveja o amor de D. José por Micaela, a segurança que ele simboliza. Quer, portanto, se apropriar dessa felicidade. E, quando o soldado, após abandonar tudo por ela, sente-se miserável, já não interessa mais para ela, que se volta, então, para o sucesso do toureiro Escamillo. D. José, por sua vez, inveja a liberdade que vê em Carmen e despreza a própria felicidade. É como na vida, diz Papa: você se sente feliz por algum motivo e logo está buscando razões para acabar com aquela sensação. Como o soldado D. José, foi escalado o tenor Eduardo Itaborahy, em sua quinta produção da mais famosa ópera do francês Georges Bizet. Como Micaela, uma prata da casa, a soprano paraense Adriane Queiroz que, anos após deixar Belém, volta à cidade como membro do elenco estável da Deutsche Oper em Berlim, onde tem desenvolvido interessante carreira. Como Escamillo, o baixo norte-americano radicado em Belo Horizonte Stephen Bronk. Completam o elenco a meio-soprano Magda Painno (Mercedes), a soprano Sandra Medeiros (Frasquita), o baixo Orival Bento Gonçalves (Zuniga), o tenor Antonio Azevedo (Remendado) e os barítonos Leonardo Pace (Morales) e Carlos Rodriguez (Dancairo). A regência, que faz toda a diferença no espetáculo, é do suíço Karl Martin - entre as últimas aparições dele no Brasil estão a Bohème do Festival de Ópera de Manaus e o Tannhauser do Municipal do Rio, em 2002. Após a temporada de Carmen, o festival terá ainda ao longo do mês e da primeira quinzena de setembro, duas outras montagens: La Serva Padrona, encabeçada por Henrique Lian (direção musical) e Ognian Draganov (direção cênica), e O Barbeiro de Sevilha, recriação da montagem da dupla Carla Camurati/Sílvio Viegas feita originalmente para o Palácio das Artes da Fundação Clóvis Salgado, de Belo Horizonte. A programação inclui ainda concertos e recitais, como o dos pianistas Ira Levin e Ana Cláudia Brito e uma noite dedicada a compositoras paranaenses. * O repórter viajou a convite da organização do festival

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