Carlos Zílio abre duas individuais no Rio

Na Galeria Ana Maria Niemeyer ele mostra sua produção recente e no Centro Cultural Hélio Oiticica, 20 obras criadas entre 1992 e 98

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Por Agencia Estado
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O artista plástico Carlos Zílio tem andado numa roda-vida de exposições. Na semana passada, ele esteve envolvido com a mostra Situações: Arte Brasileira - Anos 70, aberta na Casa França Brasil, e com o Ateliê Finep, no Paço da Cidade, onde seus alunos expuseram seus trabalhos. Amanhã, ele abre uma individual, no Centro Cultural Hélio Oiticica, com 20 obras (16 pinturas em óleo e quatro desenhos) em grandes tamanhos, feitas no período 1992/98. No fim da semana faz outra individual, na Galeria Ana Maria Niemeyer, com sua produção recente. Com exceção da exposição sobre os anos 70, onde estarão objetos e uma instalação, o traço comum entre as outras é a pintura, à qual Zílio aderiu quando foi morar na Europa, por volta de 1980, já com quase 15 anos de carreira. "Foi quando eu tive acesso a uma cultura geral que era difícil de ser conhecida no Brasil", lembra ele, em seu ateliê, agora praticamente vazio. "Hoje, é fácil você conhecer a produção do passado, mas naquela época era difícil, pois não tínhamos muitas instituições culturais nem o hábito de freqüentá-las." O artista pertencia a uma geração que queria radicalizar romper com tudo o que havia sido feito antes. "De início, tentávamos negar o que havia ocorrido até então", explica ele, que levou um susto quando chegou a Paris para um doutorado em Artes Plásticas. "Daquela época em diante, eu comecei a pintar - e era problemático para os novatos, por causa da tradição que a pintura já tinha, esse grande passado dos pintores." Essa tradição não preocupa mais o artista. Está tão incorporada a seus conhecimentos que ele nem sequer percebe ou tenta apontar influências. Os quadros e desenhos do Centro Hélio Oiticica são do período em que essa tendência se acentuava. Ele, que insistia nas linhas paralelas e ângulos retos até o início desta década, aderiu às curvas, mas manteve o uso econômico da cor. "Minha palheta se resume a três cores, branco, preto e terra de Siena, que combino de várias formas", adverte. Zílio também prefere a tela como suporte e a tinta a óleo, a única capaz de criar volumes sobre a superfície pintada. "Mas meus quadros não são planejados, a não ser por alguns desenhos que faço antes, só como esboço, em papel de rascunho, com carvão." Esses desenhos não são expostos. Os que ele traz para o Hélio Oiticica são feitos com um bastão americano sobre superfícies maiores que as habituais, sempre com mais de 1 metro quadrado. "Gosto de desenhar porque sai mais rápido, me dá mais independência, mas tenho de tomar cuidado para não ficar só nisso", avisa o pintor. "É como se eu tivesse vários filhos e um deles, que nunca deu problema, começasse a dar e precisasse de um tipo especial de atenção." Se no passado Carlos Zílio foi um artista eminentemente político, hoje essa face acalmou. Quando começou, nos anos 60, achava que seu trabalho deveria funcionar como um panfleto, a ser distribuído em manifestações e portas de fábricas. "Chegou um momento em que desisti de estetizar a política e cheguei à militância política e até à prisão", conta ele. "Aos poucos fui mudando de ponto de vista e essa idéia foi se transformando, embora meu trabalho tenha deixado de ser panfletário."

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