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Carlos Bastos faz retrospectiva

O pintor modernista baiano, amigo de Di Cavalcanti e Jorge Amado, expõe sua obra no MAM de Salvador e lança um livro luxuoso com uma centena de reproduções dos mais de três mil quatros que já pintou

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos ícones da pintura modernista baiana e brasileira, Carlos Bastos comemora os 53 anos de carreira, nessa sexta-feira, com o lançamento, no Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia, de livro e uma exposição sobre sua trajetória artística. O livro, uma publicação luxuosa da Editora Melhoramentos organizado pelo amigo do pintor Roberto Barreto, reúne uma centena de reproduções dos mais de três mil quadros e painéis de Bastos espalhados pelo mundo, além de depoimentos de personalidades como Di Cavalcanti, Jorge Amado e o senador Antonio Carlos Magalhães. A edição custará R$ 100. Considerado um artista requintado e de domínio absoluto dos meios técnicos, sem jamais recusar a primazia do desenho em suas composições Carlos Bastos, conforme o diretor do MAM, Heitor Reis, demonstra em sua obra, "um inequívoco compromisso com a ordem: a limpidez de suas pinturas é um reflexo da clareza dos seus pensamentos". Essa nitidez está presente até nos quadros surrealistas do pintor. A paisagem da Bahia, sua arquitetura barroca, suas lendas, personagens e habitantes, constituem-se, contudo, a parte mais rica e numerosa da obra do pintor. Característica que Di Cavalcante fez questão de ressaltar: "Significativos, altamente significativos são os anjos de Carlos Bastos, suas negras e negros, seus meninos abandonados, suas freiras amorosas, suas portas abrindo-se para o mundo de orgias tristes, suas janelas escondendo alcovas traiçoeiras, suas velas aladas deslizando pelo azul do mar da Bahia, levando barcos de sonhos carregados de pombos e estátuas". Nas palavras de Jorge Amado, Bastos faz parte "da grande geração de artístas que, imediatamente após a 2.ª Guerra transformou a arte baiana, fez da cidade de Salvador uma das capitais artísticas do Brasil". Isso não foi tarefa das mais fáceis. Sua obra modernista não foi unanimidade, no inicio da carreira: em uma de suas primeiras exposições na capital baiana, em 1949, "a torpe sensualidade" identificada nos quadros do pintor pelo jornal Semana Católica, induziu um vândalo a rasgar com lâmina de barbear duas telas de Bastos expostas na Biblioteca Pública do Estado. Duas décadas depois, em 1972, no Rio de Janeiro, Bastos sofreria outro tipo de censura ao pintar dois murais da capela do Parque da Cidade, a pedido da Associação dos Amigos do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro. Nas cenas, baseadas em passagens da vida de São João Batista, o artista resolveu homenagear personalidades da época, pintando-os como personagens. Assim, entre outros, Caetano Veloso foi transformado em São João Batista adulto, Di Cavalcanti, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Jorge Amado e o então presidente da República Garrastazu Medici retratados como frades. Ao ver a imagem de Medici a diretora do museu exigiu que Bastos a apagasse do painel, coisa que o artísta se recusou a fazer. A polêmica se ampliou quando o jurista Sobral Pinto também se posicionou contra a cena do painel. Bastos decidiu não continuar a obra e abandonou o projeto. Aos 75 anos, o artista que frequentou o Art Student League de Nova Iorque, (onde foi lanterninha de cinema e limpador de neve para completar o curso) e se especializou em murais em Paris, tem obras em museus do Brasil, Portugal, Russia e Estados Unidos. Atualmente vive no Bairro de Itapuã, em Salvador.

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