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Cardeal Arns lança livro de memórias

Por Agencia Estado
Atualização:

Afastado há três anos da direção da Arquidiocese de São Paulo e às vésperas de seu 80.º aniversário, o cardeal Paulo Evaristo Arns lança na quinta-feira o livro de memórias Da Esperança à Utopia - Testemunho de Uma Vida. Na obra, de 480 páginas, das quais 90 foram distribuídas à imprensa pela editora, o cardeal assume abertamente os conflitos que teve com a Cúria Romana, durante o pontificado de João Paulo II. No conjunto, volta a afirmar o que disse em entrevista em 1996, de maneira mais explícita: que o papa João Paulo II teria perdido parte do controle da Igreja para seus assessores, a burocracia curial. O episódio onde o desgoverno teria ficado mais evidente foi o da divisão da arquidiocese, em 1989. D. Paulo, contrário a essa iniciativa, conta que o papa também não a apoiava e teria dito pessoalmente a ele: "Eu não quero a divisão". Apesar disso, os curiais levaram adiante o projeto, criando as dioceses de Santo Amaro, São Miguel, Campo Limpo e Osasco. "Foi esse, talvez, o episódio mais triste de minha vida de arcebispo sob a orientação do papa João Paulo II." Outro indicador do descompasso entre o cardeal Arns e Roma aparece no episódio da sucessão na Arquidiocese de São Paulo. O cardeal assume que o então arcebispo de Fortaleza, d. Cláudio Hummes, não constava da lista de nomes que enviou ao papa para que escolhesse o sucessor. Ele não escreve, porém, o que já disse a jornalistas: que seu preferido era d. Antônio Celso Queiroz. D. Paulo assumiu a arquidiocese em 1970, na fase mais sinistra da ditadura militar, e boa parte do livro é dedicada a narrativas sobre o combate que travou contra o arbítrio, particularmente os diálogos que manteve com os generais. A maioria deles já foi narrada pelo cardeal em entrevistas, ou em obras como a do americano Kenneth Serbin. O livro está sendo lançado pela editora Sextante, a mesma que publicou há pouco um livro de Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação que foi duramente perseguido pela Cúria Romana, até que deixou o hábito de frade franciscano. A Sextante também edita no Brasil as obras do Dalai Lama. D. Paulo já foi uma das figuras mais influentes da Igreja no Brasil e é respeitado internacionalmente como defensor dos direitos humanos.

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