Canta aí, parceiro

Ele é o escolhido de Arnaldo Antunes. Oleives venceu o Prêmio Musique com uma estratégia que costuma funcionar bem em música: a simplicidade

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Por Redação
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Nada mais importava a Olavo ali a não ser o ensaio de sua banda. Nem aquele papo maluco de seu baixista sobre uma letra de Arnaldo Antunes inédita publicada por um jornal de São Paulo. Olavo queria mesmo era colocar sua carreira nos trilhos antes do show que faria à noite, e a tal letra inédita de Arnaldo ficou lá, em uma estante de partituras de um estúdio de Belo Horizonte.Veja o vencedor. Oleives toca "Planta Colhe" na TV EstadãoOutro amigo veio com o mesmo assunto no dia seguinte, por MSN. De novo a história do "jornal que queria achar um parceiro para Arnaldo". Olavo se rendeu. Apanhou o violão, pegou a letra na estante e sentou-se em busca de uma harmonia. Em menos de dez minutos, a música saiu. "Fiquei até assustado, foi muito rápido", diz Olavo.A primeira edição do Prêmio Musique contou com 517 participantes dispostos a serem parceiros de Arnaldo Antunes. O desafio era criar a melhor canção para os versos inéditos da música Planta Colhe. Só de São Paulo havia 364 compositores inscritos. Outros tantos vinham do Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Amazonas, Rio Grande do Sul. De Minas Gerais, terra de Olavo, eram 19. Os jurados recebiam apenas o número de cada concorrente, sem nome ou local de origem. Destes 517 iniciais, o júri, presidido pelo pianista Amilton Godoy, do Zimbo Trio, e com o baterista Charles Gavin como jurado convidado, escolheu cinco finalistas. Ainda com nomes e origens sob sigilo, estes cinco selecionados foram enviados ao próprio Arnaldo Antunes para que o autor da letra batesse o martelo. Arnaldo pediu tempo para ouvir bem, até que resolveu pelo autor da música que levava o número de identificação 397. Planta Colhe, com Oleives (o nome artístico de Olavo), virou um afoxé pop que poderia bem ter sido feito pelo próprio Arnaldo Antunes. "Era uma canção que estava mesmo no meu universo. Mas não foi por isso que a escolhi, gosto de ser surpreendido. Escolhi porque ele foi muito feliz no arranjo, na simplicidade para dar o recado", diz Arnaldo.A canção de Oleives e Arnaldo Antunes, a primeira parceria feita na música brasileira por meio de um concurso de um jornal, realizado pelo Caderno 2+Música e pela Rádio Eldorado, já está disponível no Portal do Estadão (estadao.com.br). Além de trazer a canção executava por Oleives e pelo baterista e percussionista Arthur Rezende, há ainda uma entrevista com Arnaldo Antunes e seu novo parceiro. A canção será transmitida também durante a programação da Rádio Eldorado FM 92,9 e AM 700. Na tarde de quinta, Oleives regravou a canção em um estúdio de São Paulo para dar a ela maior qualidade técnica antes de entrar na programação das emissoras.Olavo Barbi Botelho, 25 anos, é mineiro de Belo Horizonte, músico, filho de pai engenheiro e mãe advogada. Aos 14 anos, começou a estudar guitarra pensando em Steve Vai. Se formou em jornalismo, mas não teve coragem de trocar de lado do balcão. Afinal, dar entrevistas sempre pareceu mais instigante do que entrevistar. Com a turma universitária, formou o grupo de reggae Jacanarana. Olavo, que já sabia guitarra, aprendeu bateria, baixo, teclado e canto. Deixou o Olavo para ser Oleives e passou a encarar as plateias de todas as casas de shows de Belo Horizonte.Oleives tem hoje um disco nas mãos para finalizar, com onze músicas próprias e uma regravação de Milton, Coisas da Vida. Suas inspirações, ele não nega, podem ser vistas como "raízes". Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant. Skank? "Acho os caras uns gênios", diz. Fã ainda de Titãs, já havia visto em Arnaldo uma inspiração em 2004, quando usou um poema do músico chamado Pensamento para fazer uma canção. "Compor é o que mais me atrai. Nem me acho um cantor, mas um compositor que canta."

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