Cannes espaço para a polêmica

Produção alternativa ganha mais espaço na 63ª edição, que começa hoje

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cartaz oficial

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Clicada pela também francesa Brigitte Lacombe, a atriz Juliette Binoche segura pincel e exala magia

   

 

ENVIADO ESPECIAL

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CANNES

A dose de polêmica já está garantida, por antecipação. O governo da Itália, leia-se o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, já fez saber que a seleção de 2010 ofende o povo italiano por haver escolhido o novo documentário de Sabina Guzzanti. Draquilla, L"Italia Che Trembla, usa o tremor de terra que atingiu a cidade de Áquila, no centro da Itália, no ano passado, para mostrar que o verdadeiro terremoto que aflige o país é a corrupção política que floresce sob os auspícios de Berlusconi. Sabina é polemista profissional, como sabem os espectadores que viram Viva Zapatero!, de 2005.

Polêmica, insatisfação, muito espaço para o cinema alternativo à dominação de Hollywood, tal parece ser o perfil do 63.º festival, que começa hoje. Pela primeira vez, um filme do Chad, país da região central da África, faz história participando da competição - L"Homme Qui Cri, de Lahamat Saleh Haroun. Três vencedores da Palma, Abbas Kiarostami, com Copie Conforme, Mike Leigh, com Another Year, e Ken Loach, que concorre com Route Irish, escalado de última hora, e já ganhou em 2006, tentam bisar o prêmio que receberam, respectivamente, por Gosto de Cereja, Segredos e Mentiras e The Wind that Shakes the Barley.

O russo Nikita Mikhalkov traz uma sequência, O Sol Enganador 2 - Exodus, 16 anos depois que o original perdeu a Palma para o Quentin Tarantino de Tempo de Violência (Pulp Fiction), que em 2001 presidia o júri que atribuiu prêmio especial a Mal dos Trópicos, de Apichatpong Weerasethakul.

Tarantino, explicando o prêmio, disse que Weerasethakul era a grande reserva de seu júri. Nem todo mundo gostava de seu filme, mas quem gostava fez barulho. Ele volta com Uncle Boon Who Can Recall His Past Lives. Cahiers du Cinéma já dedicou páginas e páginas à filmagem, mas a revista é pé-frio. Tradicionalmente, suas apostas caem no vazio.

O júri será presidido por Tim Burton (leia texto). Marco Bellocchio vai ministrar a lição de cinema e ele já deu uma prévia do que vai dizer - técnica é possível aprender com quem entende do assunto, mas o grande desafio de um diretor (ou diretora) é o trabalho humano, com os atores. É no corpo deles que o filme será inscrito.

As seções paralelas prometem. Um Certain Regard parece mais atraente que a própria competição, com novos filmes de Manoel de Oliveira (O Estranho Caso de Angélica), Jean-Luc Godard (Film Socialisme), Jia Zhang-ke (I Wish I Knew), Lodge Kerrigan (Rebeccah, Return to the Dogs) e Pablo Trapero (Carancho). Cannes Classics vai mostrar as versões restauradas de Tristana, de Luis Buñuel - em presença de Catherine Deneuve -; Boudu Salvo das Águas, de Jean Renoir, acrescido de uma cena cortada na época; Uma Aventura na África, de John Huston; Psicose, de Alfred Hitchcock; La Bataille Du Rail, de René Clément; e O Leopardo, de Luchino Visconti. Até dia 23, Cannes será a principal vitrine do cinema no mundo.

Competição oficial

Tournée, de Mathieu Amalric

Des Hommes et des Dieux, de Xavier Beauvois

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Hors la Loi, de Rachid Bouchareb

Biutiful, de Alejandro González Iñárritu

Un Homme Qui Crie, de Mahamat-Saleh Haroun

Housemaid, de Sangsoo Im

Copie Conforme, de Abbas Kiarostami

Outrage, de Takeshi Kitano

Poetry, de Chang-dong Lee

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Another Year, de Mike Leigh

Fair Game, de Doug Liman

You. My Joy, de Sergei Loznitsa

La Nostra Vita, de Daniele Luchetti

Utomlyonnye Solntsem 2, de Nikita Mikhalov

La Princesse de Montpensier, de Bertrand Tavernier

Route Irish, de Ken Loach

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Loong Boonmee Raleuk Chaat, de Apichatpong Weerasethakul

Rizhao Chongqing, de Wang Xiaoshuai

The Frankenstein Project, de Kornél Mundruczó

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