Caninos afiados miram a sua jugular

Como abocanhar, com uma só dentada, a audiência das crianças, adolescentes e adultos profissionalmente ativos sem perder de vista as donas de casa? Para Antônio Calmon, a resposta tem um pé no sobrenatural e longos caninos

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Como abocanhar, com uma só dentada, a audiência das crianças, adolescentes e adultos profissionalmente ativos sem perder de vista as donas de casa? Para Antônio Calmon, a resposta tem um pé no sobrenatural e longos caninos. E é nisso que a Globo aposta com a estréia, amanhã, da nova novela das sete, ´O Beijo do Vampiro´. Não é uma continuação de ´Vamp´, reafirma o autor, que também escreveu a trama, dez anos atrás. "´Vamp´ foi tomada pelos vampiros. Agradou artistas e intelectuais, as crianças e a imprensa, virou cult, mas as donas de casa não gostaram. ´O Beijo do Vampiro´ é mais romântica, com núcleos realistas fortes", diz, convicto de que "agradar a cinco ou seis núcleos de opinião" é a única maneira de atingir o trilho de 30 pontos estipulado pela emissora para o horário. A faixa de exibição também justifica a preferência do responsável pela recente ´Um Anjo Caiu do Céu´ pelos temas do além. "As pessoas tendem a achar que eu sou maluco, mas não é nada disso. Minhas novelas costumam ficar espremidas entre dois telejornais. Um, o ´SPTV´, diz que São Paulo está acabando. Outro, o ´Jornal Nacional´, que o Brasil e o mundo estão perto do fim. No meio disso tudo, tem que ter um pouco de sonho", diz. Sob a direção geral de Marcos Paulo e Roberto Naar , Tarcísio Meira lidera uma trupe de sanguessugas high tech, que bebe sangue em garrafinhas importadas da Suíça e já não teme a luz do dia: usam filtro solar com altíssimo fator de proteção e cremes contra queimaduras de água benta. Com o auxílio de uma bateria de efeitos especiais, os mortos-vivos não apenas se transformam em morcegos e lobos, mas surgem entre chamas, podem ficar invisíveis e voar. Uma frase de incentivo de Naar durante a gravação da cena em que Tarcísio, encarnando o duque Bóris, levanta vôo carregando com ele a princesa Cecília, de Flávia Alessandra, retrata bem o clima do que vem por aí. "É meio pagar mico, mas vai dar certo", garantia o diretor. Isso porque, depois, a imagem seria trabalhada no computador. Uma verdadeira vampiromania Efeitos visuais como 3D (criação de imagens que não foram gravadas), efeitos morf (manipulação de imagens) e composições (colagens animadas), combinados aos mecânicos, têm dado forma às mais loucas fantasias do autor. É um processo trabalhoso, demorado e caro. Cenas ambientadas na Idade Média, quando começa a história, foram gravadas no castelo Almourol, uma propriedade do exército português na cidade de Vila Nova da Barquinha, a 1h20 de Lisboa. Depois, ainda trabalhou-se em cima das seqüências de luta durante três dias. Tanto empenho tem como objetivo lançar "mais que uma novela de sucesso, uma verdadeira vampiromania", diz Marcos Paulo. "Antes mesmo de ´O Beijo do Vampiro´ entrar no ar, já foram lançados 30 produtos com a marca. "É a primeira vez que se faz isso com uma novela", conta. Souvernirs como canecas (R$ 5) e camisetas (R$ 9,99) já estão disponíveis para compra via Internet, assim como o CD com a trilha sonora da trama. O grosso do comércio, porém, deverá ser representado pelos brinquedos. Houve até a preocupação de não assustar as crianças menores. É verdade que seus vampiros não recuam nem diante de crucifixos e dentes de alho empunhados por gente de pouca fé. "Mas eles não mordem crianças, idosos, deficientes físicos e grávidas", diverte-se Calmon. Há aí, porém, um objetivo nobre. "Espero não precisar recorrer à violência que, bem ou mal, funcionou em ´Desejos de Mulher´", diz, lembrando que a novela de Euclydes Marinho, encerrada na última sexta-feira, chegou a registrar média de 34 pontos no Ibope. Nisso, sim, o telespectador quer acreditar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.