Candidatos à ABL acham cedo falar em sucessão

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Por Agencia Estado
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Oficialmente, até o fim da tarde de amanhã, quando a Academia Brasileira de Letras (ABL) realiza a sessão da saudade em homenagem ao escritor Jorge Amado, que morreu na última segunda-feira, ainda não há candidatos à sua sucessão. Escritores como Paulo Coelho e Antônio Torres, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eugenio Sales e até a viúva do escritor, Zélia Gattai, são ventilados, mas ninguém confirma a intenção, até porque declará-la, mataria a candidatura, por ferir o cerimonial da Casa. "É prematuro falar no assunto", alega Coelho, forte candidato, especialmente após ser um dos personagens principais do jantar de comemoração dos 104 anos da Academia, oferecido há 20 dias pelo empresário Roberto Marinho, também acadêmico, com a presença de vários imortais. Coelho era cogitado, há alguns meses, quando não havia vaga aberta, mas garantia que esperaria pelo menos quatro ou cinco anos para se candidatar. Ontem, ele respondeu assim à questão: "É cedo para falar nisso, me procure na sexta-feira." Antônio Torres, que ganhou o prêmio Machado de Assis, da ABL, no ano passado, também prefere esperar. "O prêmio é um aval dos acadêmicos, mas tem gente que ganhou antes de mim, como Fernando Sabino, e ainda não está lá", disse. "Fico constrangido de falar de um homem tão generoso. Em 1972, quando lancei meu primeiro livro, Um Cão Uivando para Lua, o Estado fez uma página comigo e com ele, falando do baiano velho e do baiano novo. Ele gostou, me procurou e comprou meu livro para ser autografado. Até por isso não tenho cara de candidatar-me a substituí-lo." Entre os acadêmicos, as gestões já se iniciam. O professor Arnaldo Niskier diz já ter simpatias, mas não as declara. "Além de ser cedo, já pensou se eu falo um nome e a pessoa não se candidata?", desculpa-se. Já o escritor Josué Montello, vai mais longe. Ao ouvir o nome de dom Eugenio Sales, admite: "Ele ainda não é acadêmico, mas tem obra e mérito para sê-lo". Já sobre Zélia Gattai, Montello é menos reticente: "É um bom nome, mas o louvor a Jorge Amado é de todo o Brasil, não é exclusivo da família. Criaria um precedente e até os viúvos das acadêmicas se sentiriam na obrigação de se candidatar." Curiosamente, Jorge Amado fez da disputa na ABL tema de uma novela sua. Farda, Fardão, Camisola de Dormir, é a história de uma sucessão na Academia, durante a Segunda Guerra Mundial, em que os imortais se dividem entre substituir um poeta romântico por um general integralista, defensor de Hitler, e outro liberal, pró-americanos. No fim, ambos perdem e a vaga permanece aberta. Na vida real, as inscrições se abrem oficialmente a partir de amanhã e duram dois meses. Os imortais podem sugerir nomes, mas concorrer ou não é decisão exclusive de brasileiros que tenham mais de 18 anos e pelo menos um livro publicado.

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