Camille vai em busca do tempo perdido

Filme de Noémie Lvovsky mexe com a fantasia recorrente sobre a possibilidade de correção dos erros do passado

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
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Aos 16 anos, Camille conheceu um colega de escola, apaixonou-se perdidamente por ele, casou-se e teve uma filha. A história começa 25 anos depois, quando Camille, então atriz madura, de carreira pouco promissora, é abandonada pelo marido, que a troca por uma garota de 20 anos. Chegada ao álcool, e desiludida, Camille toma um pileque no ano-novo na casa de uma amiga e acorda... reconduzida à adolescência. Ok, viagens no tempo não são exatamente novidade. Exercem permanente fascínio, desde a ancestral A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, adaptado por George Pal em 1960. Por que viagens no tempo persistem como tema do cinema? Fácil responder. Porque respondem a uma fantasia recorrente do imaginário humano. Se me fosse dado voltar ao passado e corrigir certos erros, ou produzir determinados acertos, toda a minha vida poderia ter sido diferente. É nesse tema batido que mexe Noémie Lvovksky, diretora e protagonista deste divertido Camille Outra Vez. É um filme muito simples, mas que fez quase um milhão de espectadores na França e foi indicado em dez categorias para o César, o "Oscar" francês. Ganhou também um prêmio na Quinzena dos Realizadores (Cannes). Muita recompensa para um trabalho mediano? Talvez não. É verdade que Camille está a léguas de ser uma obra de arte capaz de justificar tantas indicações a prêmios importantes. No entanto, possui certo encanto secreto que o habilita a ir além da banalidade do seu propósito inicial. Acredito que a tal força venha da sinceridade de Noémie, que dirige com simplicidade e compõe uma personagem frágil, insegura, meio pressionada por pais muito fortes (na adolescência) e por um marido estroina quando na maturidade. Apesar de previsível em seu enredo, o filme tem inegavelmente momentos de encanto. E um lado muito francês quando, como quem não quer nada, se põe a discutir as noções filosóficas de morte e tempo, estranhas em filme aparentemente feito só para divertir.

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