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Camila Pitanga, sucesso na TV e requisitada no cinema

Atriz que é um sucesso no papel da Bebel de ´Paraíso Tropical´ fala ao Estado

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Por Redação
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Aos 16 anos, Camila Pitanga experimentou seu primeiro boom. Celebrada pela mídia, virou mito sexual e objeto de desejo de todos os machos do País. "Era uma celebridade", ela diz e coloca a expressão entre aspas porque, embora ainda não soubesse o que queria - era muito jovem -, Camila já intuía que aquilo não era legal. Filha de atores - Vera Manhães e o lendário Antônio Sampaio, que depois virou Pitanga, figura emblemática do Cinema Novo, nos filmes de Glauber Rocha e Cacá Diegues -, ela sempre conviveu com a arte (o cinema) e a política, mesmo antes de seu pai casar-se com a ex-governadora do Rio Benedita da Silva, a Benê. "A política não entrou na minha vida por causa da Benê", afirma. "Antes de ela virar minha madrasta eu já fazia campanha. Acima de tudo, somos amigas." O segundo boom veio agora, com o estouro da personagem Bebel na novela Paraíso Tropical, de Gilberto Braga. Programa mais visto da TV brasileira em junho, Paraíso Tropical transformou Camila na prostituta que, vinda de um lugarejo no litoral da Bahia, começou a rodar bolsinha no Rio e hoje é amante de Olavo, o inescrupuloso personagem interpretado por Wagner Moura. Bebel começou rampeira, vulgar, mas passou - ainda está passando - por uma transformação. "Ela está vivendo seu sonho de Cinderela", define Camila, que curte o sucesso dessa personagem. Desta vez, o que o público e a mídia celebram não é sua - esplêndida, é bom ressaltar - aparência física, com aqueles olhos, aquela boca e aquelas curvas, mas o trabalho da atriz. "Bebel não é uma prostituta caricata. Percebo isso porque tenho uma resposta muito grande do público de todas as idades. Os jovens, os idosos, as crianças, todos adoram a Bebel e suas trapalhadas, agora que ela está tendo de lidar com a etiqueta." Bebel e Ceci Camila sentiu, mais uma vez, o gostinho dessa nova fase de sua vida - e carreira - na terça-feira à noite. Hollywood baixou em São Paulo, mais exatamente no Shopping Eldorado, onde ocorreu a pré-estréia, para convidados, de Saneamento Básico - O Filme, de Jorge Furtado, que estréia na sexta da próxima semana, dia 20. Todo o elenco veio prestigiar - Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Paulo José, Bruno Garcia e, claro, Camila Pitanga. Sua entrada foi de superstar, assediada pelo público e pela imprensa que queriam chegar perto "da Bebel". Foi a maior muvuca. Como, para ela, trabalho é coisa séria, Camila gostaria de acreditar que Silene, a personagem que interpreta em Saneamento Básico, venha a merecer o mesmo carinho do público. E, se preparem, porque em agosto ela bate nas telas em outro papel de prostituta, mas Ceci, a dama da noite de Noel, O Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen, não tem nada a ver com Bebel. O filme de Ricardo van Steen focaliza a boemia do Rio, nos anos 30, a partir do lendário Noel Rosa. Camila faz Ceci, a dançarina de um cabaré da Lapa que é a grande paixão do compositor. Numa cena já antológica do cinema brasileiro, Noel, interpretado por Rafael Raposo e já infectado pela tuberculose e pela doença na boca, veste máscara para fazer amor com Camila/Ceci. Os dois mascarados entregam-se com verdadeira fúria ao prazer misturado de dor. Aguardem - "Ceci é muito diferente da Bebel", diz Camila. "A Bebel vive uma trajetória ascendente. A da Ceci é descendente, num meio degradado." Ceci é mais intensa, mais forte, mais visceral. Parece mentira, mas Camila conta que se preparou para o papel de uma maneira absurda. "Na verdade, me preparei ao mesmo tempo para dois papéis - a dama da noite de Noel e a atriz de Porto Alegre em Sal de Prata (de Carlos Gerbase). Me preparava para um papel no Rio, tomava um avião e ia a Porto Alegre fazer os preparativos para o outro. Uma loucura." Sal de Prata foi produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, a mesma produtora de Saneamento Básico - O Filme. "Adoro o pessoal da casa. É muito bacana. Além de talentosos, eles são muito legais, muito inteligentes. Fazem um cinema de turma, distante do Rio e de São Paulo e obtêm reconhecimento, o que é melhor ainda." Ela considera Jorge Furtado um dos diretores mais lights - relaxado no bom sentido - com quem trabalhou. "O Jorge não se estressa. Ele se prepara muito, faz o filme na cabeça antes de passar pela câmera. A gente ensaia, prepara tudo e, na hora de filmar, ela não grita ‘Corta!’. A gente diz o diálogo e ele continua filmando. Há sempre muita improvisação no rabinho das cenas filmadas pelo Jorge, o que é sempre muito estimulante para o ator. Às vezes ele usa, às vezes não, mas o importante é que todo mundo fica descontraído no set. O ato de filmar é prazeroso, não uma angústia." ´Saneamento Básico´ Saneamento Básico - O Filme. Que raio de título é este? Num certo momento, todo mundo tentou fazer com que o diretor mudasse o título, sob a alegação de que ninguém iria sair de casa para ver um filme assim chamado. Jorge, como pai da criança, bateu pé. O interessante é justamente o estranhamento - saneamento básico refere-se a um problema endêmico das desigualdades sociais no Brasil. Uma parcela muito grande da população ainda não tem esse básico, esse mínimo que é condição da cidadania. E, por outro lado, o filme representa o limite da sofisticação e do desenvolvimento tecnológico. Entre os dois extremos - a ausência de saneamento básico e o filme -, constrói-se a visão social de Jorge Furtado. Camila concorda, mas diz que o filme também pode ser visto como uma piada muito divertida. "Existem camadas de leitura. Cada um vai tirar o que quiser, ou puder", ela diz. No filme, um grupo quer resolver o problema dessa cidadezinha de colonização italiana, encravada na serra gaúcha. Eles querem saneamento básico, a prefeitura não dispõe de recursos, mas existe uma verba do MinC, o Ministério da Cultura, para a realização de um vídeo. Eles resolvem usar o dinheiro do vídeo para construir a fossa. Mas como se produz cinema, como se faz um vídeo? "Silene é uma personagem legal, muito mais rica do que parece. Ela ingressa nesse mundo de fantasia do cinema e descobre outra coisa, um outro mundo que lhe produz deslumbramento." Silene vira, em seu mundinho, uma celebridade - ‘a’ gostosa, aquilo que Camila decidiu não ser, há dez anos. Quer dizer, com aquele corpão ela sabe que não consegue deixar de ser objeto de desejo, mas isso não lhe basta. O trabalho como atriz é levado muito a sério. "Isso é uma herança de meu pai. Ele foi um farol, uma referência não apenas para mim, mas para o Rocco, também." Camila refere-se ao irmão, Rocco Pitanga, também ator de TV e cinema. No início da semana passada, o repórter encontrou-se com Rocco no morro do Cantagalo, no Rio, no set do novo filme de Breno Silveira, Era Uma Vez. Rocco falou com imenso carinho da irmã, disse que seu sucesso é merecido, é o reconhecimento a um trabalho de atriz. Ela retribui - "Rocco ainda vai ter o grande estouro dele. É uma questão de tempo, espere para ver." Sem parar Carioca, Camila nasceu em Botafogo, mas rodou toda a Cidade Maravilhosa, como gosta de dizer. Morou no Leblon, em Jacarepaguá, na Barra, no Leblon de novo, no Jardim Botânico. Numa certa época, quando seu pai começou a namorar com Benê, a casa em Jacarepaguá passou por uma reforma e ficou inabitável. Camila e Rocco foram morar na casa de Benê, no Morro de Chapéu Mangueira. Até hoje, se você vai ao morro - onde foi filmado o ainda inédito Cidade dos Homens -, os moradores apontam com orgulho ‘a casa da Camila’, que já foi um deles. Camila pode ter morado no morro, mas nunca foi uma favelada, camada da população pela qual ela tem o maior respeito, é bom ressaltar. Mas a experiência reforça um lado Cinderela que termina servindo à personagem de Paraíso Tropical. "Desde a primeira sinopse, o Gilberto (Braga) já havia criado esse desenho para a personagem. A Bebel ia ascender, passar por um processo de reeducação, ficar chique." Uma cena emblemática dessa fase há mais ou menos duas semanas, quando Bebel ganhou dinheiro de Olavo para ir às compras, mas as funcionárias da butique se recusaram a atendê-la. Você deve se lembrar da cena de Julia Roberts em Uma Linda Mulher. Gilberto Braga tem escrito belas cenas para Camila Pitanga. "Já estavam previstas na sinopse", ela ressalta, minimizando o estouro da personagem. Gilberto Braga não está simplesmente atendendo a uma demanda do público por mais Bebel. A previsão é de que a novela vá até outubro. E depois? "Preciso descansar", anuncia Camila. Nos últimos anos, seu nome tem sido trabalho. Ao mesmo tempo que se preparava para os dois filmes - Sal de Prata e O Poeta da Vila -, ela terminava a faculdade, no Rio. Formou-se e hoje é, com honras, bacharelanda em teoria teatral. Você pode discutir a teoria do teatro com Camila - a tradição da commedia dell’arte, que Jorge Furtado homenageia em Saneamento Básico - O Filme. É uma mulher de gosto refinado. Assistiu há pouco, em DVD, a Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, e ficou chapada. "Que texto maravilhoso! Você não acha que dá uma peça de teatro? Estou louca para fazer teatro." Por que não Hiroshima, por que não Duras? O olho brilha. Camila precisa de férias, mas ... quem sabe?

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