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Camerata encerra temporada em alta

Por João Marcos Coelho
Atualização:

Em seu último e muito bem-sucedido concerto do ano, sexta-feira no auditório do Masp, a Camerata Aberta encerrou sua primeira temporada como único grupo permanente dedicado à prática da música contemporânea com uma autêntica declaração de amor ao movimento espectralista francês.Desta vez, após uma dezena de concertos ao longo do ano construídos em torno do chamado eixo espectral, programaram-se obras de dois dos fundadores do movimento, nos anos 70, em Paris: Tristan Murail e Hugues Dufourt. Vieram também três excelentes músicos do L"Itinéraire, grupo parisiense porta-bandeira do movimento nascido na década de 70 do século passado. Desse modo, abraçou-se de vez o credo espectral como plataforma estética da Camerata.Claro que é importante conhece-lo e saber que a partir da análise do som via computador pode-se estabelecer novos modos de se criar música em função tão-somente do som, sem nenhum outro parâmetro. L"Afrique d"après Tiepolo, de Dufourt, emprega acordes sustentados a cada compasso, que são decompostos ao longo de cada tempo, formando novos aglomerados sonoros. Mémoire/Érosion, de Murail, vai mais longe: faz superposições, com loopings, de sons, que aos poucos vão se deformando, tendo como eixo a trompa-solo voltada para os próprios músicos.Diastema, de 2001, é assinada pelo alemão Oliver Schneller, ex-aluno de Murail, representante da segunda geração espectralista. O trio de músicos franceses interpretou um clássico do século 20, o húngaro György Ligeti, com seu trio para trompa, piano e violino.É importante ter um grupo estável dedicado à música contemporânea? Sim, sem dúvida. Mas seria fundamental colocar um plural no conceito de música contemporânea. Afinal, faz um bom tempo que a hegemonia das elites radicais francesas e alemãs sofreu irreversível erosão. Espectralismo é apenas uma entre muitas outras propostas contemporâneas.Se desejar mesmo espelhar em seu trabalho as múltiplas faces das músicas contemporâneas, a Camerata precisará abrir-se esteticamente. OK, já mapeamos exaustivamente Paris e demos umas escapadelas pela Alemanha. Que tal agora mostrar o que se faz hoje em "nuestras" Américas? Há vida inteligente em nosso continente também. E não estou falando só de Brasil. Militância pelas músicas novas, vivas, sim; proselitismo por uma corrente apenas, definitivamente não.

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