PUBLICIDADE

Caixa de Imagens revisita obra de Shakespeare

Com Macbeth, companhia de teatro de bonecos inaugurou projeto Acorda Shakespeare e agora estuda montar Otelo, Hamlet e até Romeu e Julieta

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de sete anos de estrada, o grupo Caixa de Imagens decidiu enfrentar William Shakespeare. Com Macbeth, o grupo concretizou em 2001 a primeira montagem do projeto Acorda, Shakespeare!, em que seu premiado teatro de bonecos é posto a serviço da obra do dramaturgo inglês, e vice-versa. Depois de uma bem recebida estréia no teatro Cultura Inglesa, na Vila Mariana, o espetáculo voltou ao mesmo espaço para nova temporada e manteve-se em cartaz até o final de setembro. Volta à cena em novembro, no palco do Sesc Pinheiros. E não pára por aí. A idéia original do Acorda Shakespeare era costurar algumas cenas de diversos textos do dramaturgo. Aos poucos, trabalho da criação coletiva do Caixa - hoje integrado por Mônica Simões, Evelyn Cristina e Carlos Gaucho -, chegou-se à seleção de algumas tragédias. Os roteiros de Otelo e Hamlet foram esboçados, o boneco do mouro ciumento até ficou pronto. Mas, no início de 2001, o grupo decidiu passar Macbeth à frente. Por quê? Aqui é preciso lembrar que o trabalho de criação da Caixa vai um pouco ao acaso, ao inconsciente, da atenção aos grandes e pequenos sinais. Mônica e Gaucho contam que, pressionados a preparar uma nova estréia para um festival paulista, foram surpreendidos por quatro gatinhos natimortos, encontrados no local de ensaio. A mãe já havia limpado tudo, não havia outro sinal da tragédia que não os corpos dos gatinhos. Arrepiaram-se. Suspenderam Otelo e Hamlet, e decidiram dedicar-se a Macbeth, mais exatamente à ambiciosa, maquiavélica e sonâmbula personagem Lady Macbeth, que resolve fazer de seu marido o novo rei da Escócia. Para a direção, escalaram Nelson Peres, que já os havia dirigido em Imagens da Mitologia, e com ele montaram uma versão do espetáculo centrada na esposa de Macbeth. Acorda Shakespeare marca um longo processo pelo qual o Caixa de Imagens vem passando, desde que conquistaram público e crítica, em meados dos anos 90, com o lirismo de seus curtos espetáculos, encenados em palquinhos de menos de meio metro (a "caixinha") e destinados a pequenas platéias, às vezes uma única pessoa por sessão. São estes delicados esquetes que mais rendem ao grupo convites para mostrar seu trabalho mundo afora - França, Alemanha, Portugal, Grécia - e também Brasil adentro, em projetos beneficentes como o que os levou, na semana passada, a uma creche no Parque Dorotéia, zona sul da capital paulista. Mas o grupo já sentia a necessidade de experimentar novos formatos, de evitar o peso de um rótulo. Saíram da caixinha, experimentaram bonecos maiores, enfrentaram montagens de maior fôlego e, agora, chegam à densidade da obra de Shakespeare, e à expectativa que a cerca, debruçando-se pela primeira vez sobre uma grande personagem. Fazer Shakespeare, e em especial Macbeth, "é um desafio", reconhece Mônica. "A obra já chega carregada e desafiadora, por mais tarimbada que seja a companhia", diz. "E não é espetáculo para criança", avisa Gaucho, embora, claro, bonecos exerçam sempre uma forte atração sobre elas. Também em Macbeth o grupo busca a essência do texto, sua síntese. O que exige cuidado redobrado para a direção de Nelson Peres. Os cinco atos da tragédia foram reduzidos a cerca de 40 preciosos minutos, começando já com a quinta cena do primeiro ato, em que Lady Macbeth recebe a carta de seu marido, recém premiado pelo rei que mais tarde irá matar. "É uma enorme responsabilidade dar o colorido certo à personagem", diz o diretor. O Caixa estuda agora qual novo texto de Shakespeare adotar. Podem retomar Otelo ou Hamlet, mas pensam também em Romeu e Julieta, que, por se tratar de texto ainda mais conhecido, permite "viajar à vontade", conforme Gaucho. Esperam aproveitar a bem-sucedida idéia de reproduzir em cena, com auxílio de painéis, o histórico Globe Theater, de Londres. De uma ou de outra forma, é certo que, tendo consolidado Macbeth, vislumbram vida longa à nova porta aberta por seu projeto. E, ao contrário do que acreditou o personagem-título, uma vida de pouco som, nenhuma fúria, contada por competentes artistas, repleta de significado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.