Caetano quer Brasil na liderança de questões negras

O debate desta noite entre o cantor e compositor Caetano Veloso e o escritor angolano José Eduardo Agualusa, mediado por Cacá Diegues foi o mais aplaudido do evento. Veja Galeria

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Brasil precisa assumir a condição de líder mundial em relação às questões negras. A opinião partiu do escritor e compositor Caetano Veloso, que participou do último debate hoje da 2.ª Festa Literária Internacional de Paraty, ao lado do angolano José Eduardo Agualusa. "Depois do continente africano, somos o país com maior quantidade de negros no mundo; na verdade, só perdemos para a Nigéria", disse Caetano que se declarou também contrário ao sistema de cotas para entrada nas universidades. Ao menos na teoria - "Claro que vivemos um papel desigual no acesso à faculdade, mas o simples fato de reconhecer a idéia de raça já é algo desigual." Foi a primeira vez que Caetano encontrou-se com Agualusa, escritor que sempre declarou seu reconhecimento pelo compositor brasileiro. "Comecei a ter noção do que é o Brasil por meio da música do Caetano e da literatura de Jorge Amado", disse o autor. O debate foi mediado pelo cineasta Cacá Diegues, a quem Agualusa dedicou um de seus livros, O Dia em que Zumbi tomou o Rio. As diferenças entre raças foi o tema dominante do debate. Agualusa lembrou a importância da cultura brasileira entre os angolanos, influenciando em toda as artes. Por isso, ele concordou com a proposta de Caetano Veloso. "Seria importante o Brasil redescobrir a África e ter orgulho de si próprio", disse ele, que observa mais semelhança da literatura angolana com a brasileira que com a portuguesa. "Quando li Jorge Amado pela primeira vez, me parecia estar diante de um ambiente tipicamente africano." Agualusa notou também que a distância em relação ao que se produz em Portugal é que os portugueses são mais pessimistas. "Há uma melancolia tradicional, que não se adapta aos angolanos que, mesmo em situação crítica, não perde a capacidade de sorrir." Para ele, a influência dos africanos na cultura nacional permitiu que o Brasil não fosse tão melancólico como os portugueses. A palestra entre Caetano Veloso e José Eduardo Agualusa foi, até o momento, a mais disputada pelo público. O grande número de pessoas na cidade (estima-se em, pelo menos, oito mil) além da necessidade extra do uso de energia elétrica provocou hoje diversos blackouts na cidade. O primeiro, no início da noite, durou aproximadamente dez minutos. Em seguida, a cidade ficou às escuras em diversos outros momentos. A festa literária vem servindo também para a aproximação e acerto de futuros projetos. O cinesta Hector Babenco reuniu-se em diversas oportunidades com o escritor Paul Auster. O diretor pretende transformar em filme o livro Palácio da Lua, de Auster. Segundo a mulher do escritor, Siri Hustvedt, que também é autora, eles são amigos há muito tempo.

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