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Cacoyannis, o nome da tragédia

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Alceste, Electra, Ifigênia, Medeia, e Hécuba. As mulheres foram as maiores criações de Eurípides. Michael Cacoyannis sabia e, por isso, filmou-as (quase) todas. Electra, a Vingadora, As Troianas e Ifigênia. Realizados entre 1961 e 76, os filmes compõem uma notável trilogia. Cacoyannis havia começado neorrealista, nos anos 1950, com Stella e A Mulher de Negro. Algo se passa, por volta de 1960. À herança do neorrealismo, ele contrapõe a descoberta dos russos, Eisenstein e Prokofiev, a base das trilhas de Mikis Theodorakis.A tradição costuma contrapor Ésquilo a Eurípides. Ambos são dramaturgos da polis, ambos odeiam a família. Ésquilo, porque ela se opõe ao Estado, que, para ele, organiza os homens. Eurípides, porque ela violenta a liberdade do indivíduo. Ésquilo e a coletividade, Eurípides e a individualidade. O primeiro, em seu texto, dá voz à altitude das montanhas. O segundo expõe a dor das almas.'Ai de mim', lamenta-se Hécuba. Os críticos manifestam grande respeito por Electra e por Ifigênia, mas não perdoam Cacoyannis por ter feito As Troianas em inglês, com um elenco internacional (Katharine Hepburn, Irene Papas, Vanessa Redgrave, etc.). Os sotaques diluiriam (e comprometeriam) a intensidade da tragédia. Será? Uma norte-americana, uma grega e uma inglesa não estariam expressando a diversidade da polis, e em inglês, num momento em que a 'América' começava a se estabelecer como 'senhora do mundo'?O teatro grego tem origem na religião. As tragédias eram representadas como festas litúrgicas. Gabriel Villela, em Hécuba, restabelece a liturgia, acrescentando-lhe elementos de candomblé. Ele colore a tragédia - figurinos, adereços -, sem carnavalizá-la. E corta o texto, conduz nosso olhar como num filme. Se o palco fosse tela, Villela seria o Cacoyannis do teatro brasileiro. Walderez de Barros, com sua máscara trágica, é melhor que Hepburn, mas espere para ver Nábia Vilela cantar. É arrasadora.

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