Bussunda: "Quanto pior vai o governo, mais fácil sai a piada"

Leia na íntegra a entrevista que o humorista concedeu à Leila Reis, do Caderno 2 do Estado, em 14 de maio de 2004

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Por Agencia Estado
Atualização:

Cláudio Besserman Vianna, 41 anos, ganha a vida com o nome de Bussunda. Mas às terças-feiras, ele pode ser o Ronaldinho ou o presidente Lula, dependendo do que a turma do que o Casseta & Planeta, Urgente! inventar. Nesta entrevista, Bussunda fala do humor produzido na Globo e fora dela, dos problemas que enfrenta no exercício da profissão e da relação do humor com o poder. Estado - Por que você acha que há tantos programas de humor na TV? Não sei fazer uma análise sociológica. Só sei que temos feito programas de qualidade na TV: A Grande Família, Os Normais... Como público, eu sinto que quanto mais mal-humorado é o noticiário, mais eu quero ver coisas bem-humoradas na TV. Estado - Você viu Meu Cunhado, do SBT? Não, mas ouvi falar muito bem. Considero o Ronald Golias o melhor comediante do Brasil. Qualquer coisa que ele faz é engraçado, mesmo que falte um pouco de texto. Estado - E o Pânico na TV? Sou fã deles desde o rádio, só não assisto mais porque é exibido na hora do futebol. O humor deles é parecido com o nosso, tem coisas de humor negro que não podemos fazer por causa do tamanho do nosso público. Estado - Você quer dizer que o humor de vocês está mais domesticado? A gente continua irreverente. Demoramos, mas conquistamos na Globo o direito de fazer piada com todo mundo. Já que não fazemos campanha contra ninguém. Estado - É verdade que vocês queriam fazer piada sobre a morte de Roberto Marinho? Nem pensamos nisso, somos homens de 40 anos, temos bom senso. Somos irresponsáveis, mas não somos loucos. Estado - Como foi a história com a Sandy? Quando tinha 14 anos, a Sandy disse em uma entrevista que era virgem e já estava com 17 quando foi fazer a novela (Estrela Guia, que o Casseta batizou de Estrela Virgem). Parece que essa história a incomodava, fizeram o pedido e a gente atendeu, mas lamentamos perder a piada. Estado - Foi a única vez? Fomos proibidos de fazer piada com a novela Esperança. A gente fez chamadas insinuando que era igual a Terra Nostra, aí o Benedito Ruy Barbosa ameaçou pedir demissão se brincássemos. Esperança foi a única novela das 8 que não teve piada. Não entendemos porque os atores das novelas pedem para gente fazer piada quando o personagem deles está em baixa. Estado - Em que situação vocês perdem deliberadamente a piada? Agora mesmo enfrentamos uma polêmica: Maradona. Dá para fazer as melhores piadas, mas o cara está mal. Então resolvemos respeitar os fãs dele. Estado - Qual presidente rende piadas melhores: FHC ou Lula? Presidente sempre rende e quanto pior vai o governo, mais fácil sai a piada. Quando a popularidade do presidente está em alta, é mais difícil de a piada pegar. Lula é mais personagem por causa da barba, da voz, da falta do dedo e por ser um homem do povo. Mas todo mundo gosta de piada de presidente. O nosso Devagar Franco ficou mais famoso do que o próprio Itamar Franco, por causa da história de não fazer nada e deixar a tartaruga fugir. Estado - O que FHC e Lula acham das piadas do ?Casseta?? Fernando Henrique dizia que não via o programa. Quando a gente foi ao palácio para o mostrar o filme A Tassa do Mundo é Noça, Lula foi simpático, lembrou de uma piada que a gente fez quando ele assumiu. Acho que no futuro Lula também vai dizer que não vê o programa. Estado - O que a família Suplicy está achando do desenho Os Suplicympsos? Não sei. Estado - Mas a nora da prefeita Marta (Maria Paula) trabalha com vocês... Já perguntei para a Maria Paula, mas ela não diz nada. Sei que o João (Suplicy) achou engraçado... Estado - De quem foi a idéia de fazer desenho no programa? As idéias são produções coletivas. A gente tinha vontade de fazer desenho há muito tempo, mas era caro fazer animação. Quando caiu a ficha de usar a internet - que barateou muito - fomos em frente. Fizemos também o Bebum Esponja, Os Ministros Superpoderosos - Gilzinho, Dirceuzinho e Palocinho. O último é O Menino Malufinho. Estado - O grupo é tratado como Bussunda e turma. Isso não cria constrangimentos? Isso mudou muito, já andam até me chamando de Hubert. Estado - Você é flamenguista fanático. Nunca quis ser comentarista esportivo? Esse já foi o meu sonho, mas desisti quando vi meus amigos que foram para o esporte não ter mais domingo livre na vida. Eu queria mesmo era apresentar um programa de mulheres gostosas fazendo esportes radicais. Queria rodar o mundo atrás delas. Estado - Qual são os próximos lançamentos da grife Casseta? No segundo semestre vamos lançar o DVD do filme A Tassa do Mundo é Noça e, a pedido dos consumidores, o Anticatálogo dos Produtos Tabajara.

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