Brodowski reabre capela de Portinari

Após restauro, igreja construída e decorada pelo pintor, dedicada à avó paterna, é reinaugurada com festa no interior de São Paulo

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Por Agencia Estado
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As imagens bíblicas têm a fisionomia de amigos e parentes. O rosto do menino Jesus, no colo de Santo Antônio, é o do único filho do pintor. O de São Pedro é o do pai. A Visitação, painel do encontro de Nossa Senhora e Santa Isabel, está representado pela irmã Olga e pela mulher, Maria. As obras-primas, pintadas por Cândido Portinari nas paredes da Capela da Nonna, em Brodowski (SP), foram restauradas, com a capela. A entrega da obra será hoje, às 20 horas, numa cerimônia na frente da praça que leva o nome do pintor. A restauração, patrocinada pelo Grupo Pão de Açúcar em parceria com a Secretaria Estadual de Cultura, encerra a celebração do centenário de nascimento do artista, no ano passado. Além do filho do pintor, João Cândido, o aposentado Arduíno Heitor Morando, de 66 anos, será um dos destaques. Ele é o único vivo dos seis Meninos de Brodowski que serviram de modelo para Portinari. Entre 1944 e 1946, os horrores da guerra fizeram Portinari reforçar o caráter social e trágico da sua obra, produzindo as séries Retirantes e Meninos de Brodowski. A origem da capela, conta Morando, é curiosa. "Pellegrina, avó paterna de Candinho, era uma senhora de muita fé, mas pela idade não tinha condições de ir até a Igreja Matriz, em frente da sua casa", conta. "Por isso, o neto construiu, no começo de 1941, a capela, ao lado da casa da família." Em vez de recorrer a estátuas, Portinari preferiu pintar murais com imagens em tamanho natural nas paredes da capela. São santos da devoção da avó, todos com os rostos de pessoas da família e amigos. Ao lado do altar, Portinari pintou vasos com flores, para que a capela ficasse sempre florida. A primeira missa foi celebrada pelo padre Francisco Siino, em 1.º de março de 1941. A partir daí, a igreja ficou conhecida como a Capela da Nonna. Hoje, faz parte do acervo do Museu Casa de Portinari. Todos os imóveis onde nasceu e viveu o pintor - Portinari morreu em 6 de fevereiro de 1962 - foram tombados em 1968 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A ação do tempo, somada à fragilidade da estrutura, construída com materiais precários, provocou o enfraquecimento e a deformação dos alicerces. "Por causa das infiltrações o teto estava cedendo e começaram a aparecer gretas (rachaduras) em murais", diz restaurador Toninho Sarasá, responsável pelo reforço estrutural da capela. As pinturas foram restauradas por Julio Moraes.

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