Bratke quer reeleger-se presidente da Bienal

Depois de um ano e meio negando que se recandidataria, ele assumiu que tentará se manter à frente da fundação e, vencendo, manterá também os atuais curadores

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Fundação Bienal, o arquiteto e construtor Carlos Bratke, assumiu que pretende se candidatar novamente ao cargo e, caso seja reeleito, manter a atual dupla de curadores Alfons Hug e Agnaldo Farias na 26.ª Bienal, prevista para 2004. A eleição da nova diretoria executiva deve acontecer no dia 2 de agosto. Quem vota são os 60 membros do Conselho Administrativo da Fundação Bienal. Depois de um ano e meio negando que se recandidataria, dizendo-se "cansado" das disputas internas na instituição e alegando "saudades" de seu escritório de arquitetura, na região da Berrini, Bratke mudou o tom de seu discurso e agora diz que o atual momento é bastante favorável à sua reeleição. "Há um movimento forte dentro do Conselho pela minha permanência. A Bienal está pacificada e, levando em conta os apoios que venho recebendo, há grandes chances de eu ficar", anuncia Bratke. "Com as contas em dia, eu não precisarei me dedicar em tempo integral e não será preciso abandonar meu trabalho como arquiteto, que me dá muito prazer." Existe uma tendência de continuidade no Conselho da Bienal, que inclui ainda as figuras do curador-geral, Alfons Hug, e de Agnaldo Farias, responsável pela escolha de todos os artistas brasileiros desta 25.ª edição. "Dou praticamente como certa a permanência de Alfons Hug", aposta Bratke. "Ele é um curador muito competente, honesto e trabalhador e foi um dos que mais economizou o dinheiro da Bienal nos últimos anos. Com a experiência que ele acumulou, já encontrou os meios de baratear os custos." Para Bratke, o fato de Hug ser estrangeiro também é uma vantagem: "Ele é imparcial e não está ligado a nenhum grupo da cultura paulistana." Questionado se aceitaria ficar, Hug desconversa: "Só posso dizer que tenho uma proposta interessante do Instituto Goethe." Ele é funcionário de carreira da fundação cultural alemã, onde atuou por mais de 20 anos, morando em lugares tão distantes entre si como Berlim, Moscou, Caracas e agora São Paulo. "Estas minhas experiências interculturais foram muito importantes para a curadoria desta Bienal." Caso se candidate de fato, a chance de Bratke enfrentar opositores é remota, já que não existe, dentro do Conselho, grupos que se oponham abertamente a ele. Fora da Fundação, um nome provável para liderar uma chapa adversária seria o da ex-conselheira Milú Villella, mas ela no momento já acumula duas presidências de peso: Museu de Arte Moderna e Instituto Cultural Itaú, esta assumida há menos de um ano. Para alguém de fora se candidatar é preciso ser indicado por algum conselheiro em exercício. Se o atual presidente for confirmado no cargo para mais um mandato, a 26.ª Bienal, em 2004, deve voltar a ocorrer em seu tradicional mês de outubro. "Março traz consigo meses mortos para captação de recursos, como dezembro e janeiro", lembra Bratke. Caberá à nova diretoria executiva da Bienal decidir o cronograma da Fundação para os próximos dois anos, o que inclui a organização da 5.ª Bienal Internacional de Arquitetura e a 26.ª edição da Bienal. Caso a dobradinha Carlos Bratke-Alfons Hug permaneça até a 26.ª edição, seria a quarta vez na história do evento que a mesma dupla presidente-curador realiza duas bienais seguidas - o que já aconteceu com Ciccillo Matarazzo e Sérgio Milliet (2.ª, 3.ª e 4.ª Bienal), Luiz Villares e Walter Zanini (16.ª e 17.ª), Edemar Cid Ferreira e Nelson Aguillar (22.ª e 23.ª). De acordo com o estatuto da Fundação, seu presidente pode se candidatar quantas vezes desejar. Turbulências - Carlos Bratke, eleito no dia 23 de fevereiro de 1999 em substituição ao químico Julio Landmann, já teve seu mandato extendido no início de 2001. Em uma das mais controversas administrações da história da Bienal, Bratke, nos três anos de sua gestão, viu o presidente do Conselho, Luiz Seraphico, disponibilizar seu cargo e em seguida demitir-se. A seguir, foi vez do curador Ivo Mesquita receber o cartão azul de Bratke, para em seguida ser reintegrado e finalmente pedir para sair. Em apoio a Mesquita, a conselheira Milú Villela retirou-se da Fundação, levando com ela um grupo de seis conselheiros. "Eu peguei um período muito conturbado, coisa que não esperava. Os problemas aconteceram independente da minha vontade e personalidade. Quando eu assumi, o Conselho já estava em ebulição e havia internamente um ambiente de pesada disputa por poder´, diz Bratke. Para "pacificar" e manter ocupados os conselheiros, ele instituiu, em meados do ano passado, grupos de trabalho dentro do órgão, o mais importante deles dedicado à captação de recursos, coordenado pelo empresário Manuel Pires da Costa e do qual fazem parte os publicitários Luis Salles e Alex Periscinoto. "Apesar de toda conturbação, ao final desta gestão teremos realizado duas bienais de arquitetura, a mostra comemorativa dos 50 anos e esta 25.ª Bienal, o ápice da minha gestão." Atrasos - Na era Bratke, a mostra de arte mais importante do Hemisfério Sul (que mundialmente perde apenas para a histórica Bienal de Veneza, na Itália, e a vanguardista Documenta de Kassel, na Alemanha) foi adiada consecutivamente em duas ocasiões - primeiro para dar lugar à realização da Mostra do Redescobrimento e depois por conta da reforma da parte elétrica do Pavilhão. Segundo ele, estes dois atrasos não macularam a imagem do evento no exterior. "A Bienal ficaria queimada se houvessem roubos de obras, por exemplo. Adiar não é coisa rara lá fora, até a Bienal de Veneza já atrasou. Nós tivemos problemas políticos e de captação de recursos, isso é normal", diz ele. "A Brasil Connects esgotou praticamente todas as fontes de patrocínio com a realização da Mostra do Redescobrimento e de exposições fora do país." Em maio do ano passado aconteceu a polêmica exposição que celebrava os 50 anos da Bienal e homenageava o mecenas fundador Ciccillo Matarazzo, reunindo no mesmo espaço as linguagens das artes plásticas, arquitetura e design, proposta duramente atacada pela crítica. Para Bratke, apesar da repercussão negativa, o evento "serviu para mostrar que existem muitos vazios entre artistas plásticos, arquitetos e designers, atividades que no Brasil deveriam estar mais integradas". Adotando como tema Iconografias Metropolitanas, a 25.ª Bienal abre suas portas ao público no próximo dia 23 de março e se encerra em 2 de junho. Até a inauguração, Bratke ainda precisa finalizar as reformas no Pavilhão e captar os R$ 4 milhões que faltam para a realização do evento, orçado em R$ 18 milhões.

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