Brasília recebe mostra inédita de Rembrandt

Exposição no CCBB reunirá 83 gravuras do mestre holandês, confrontadas com 40 obras de artistas antecessores, contemporâneos ou seguidores

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Por Agencia Estado
Atualização:

Após ter atraído milhares de pessoas ao Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires, a exposição Rembrandt e a Arte da Gravura chega a Brasília, trazendo aos moradores e visitantes da capital brasileira a oportunidade única de ver reunido um conjunto significativo de obras de Rembrandt Hermanszoon van Rijn (1606-1669). Evidentemente, não se trata de pinturas - que, por seu elevado valor e fragilidade, dificilmente deixam seus museus de origem, mas de gravuras. Belíssimas gravuras que têm um significado artístico excepcional, pois são ao mesmo tempo uma prova da genialidade de Rembrandt, que promoveu uma verdadeira revolução da técnica de impressão no início do século 17, e uma mostra da importância da arte sobre papel. Normalmente desprezada pelo público brasileiro como uma forma de expressão menor, a gravura é uma linguagem que merece grande atenção. Esse interesse é ainda maior no caso de Rembrandt, que deu um verdadeiro salto ao transformar essa técnica bastante explorada em sua época para disseminar o trabalho de artistas e artesãos em uma arte independente. "Ele fez disso uma arte com características próprias, experimentou com a técnica da água-forte, obtendo um traço muito mais livre e espontâneo do que aquele obtido talhando, esculpindo a placa", afirma Pieter Tjabbes, o principal responsável pela realização dessa inédita mostra pela América Latina. No início do século 17, a gravura sobre metal era apenas um meio de reproduzir e divulgar a obra dos artistas, que usavam essa estratégia para ampliar seu mercado e fazer sua arte mais conhecida. E a água-forte era apenas uma ferramenta a mais, assim como o buril ou a ponta-seca. Com estas duas últimas ferramentas, o artesão tem de "cavar" no metal o desenho. Já a água-forte permite que sejam feitos desenhos extremamente sutis e livres, sobre uma espécie de verniz - feito de piche, resina e cera. "Sabe-se que Rembrandt criou um verniz especial bastante mole e pastoso, que lhe permitia desenhar os traços de maneira livre e solta. Muitas vezes em suas gravuras o artista conseguia alcançar o efeito semelhante a um desenho à pena ou pastel", explica o catálogo. Isso fez com que durante muito tempo Rembrandt fosse mais considerado como gravador do que como pintor. Os impressionantes efeitos de claro-escuro que obtinha nos trabalhos em papel, criando uma atmosfera de grande dramaticidade, influenciou várias gerações de artistas que o sucederam. Influência - Para afirmar essa importância da gravura de Rembrandt para a arte ocidental, a exposição inclui também uma seleção de 40 gravuras realizadas por antecessores, contemporâneos e seguidores do mestre holandês. Dentre eles o mais conhecido, sem dúvida, é Pablo Picasso, representado com a obra-homenagem Rembrandt e Três Mulheres, de 1934. Uma das ausências mais marcantes é a de Goya, que teria afirmado ao fim da vida: "Não tive outros mestres senão a natureza, Velázquez e Rembrandt." Existem certas divergências sobre o número de gravuras produzidas por Rembrandt, mas segundo o Museu Casa de Rembrandt, que cedeu os trabalhos ora apresentados em Brasília - e que devem chegar a São Paulo em 7 de setembro -, foram 290 imagens diferentes, 270 delas estão representadas em seu acervo. O público brasileiro está podendo observar esse trabalho porque a instituição holandesa estava precisando de verbas para financiar a reforma de sua sede - a casa em que Rembrandt viveu por longos anos -, recuperando sua feição original, tornando-a interna e externamente com o era no século 17. Segundo Tjabbes, que assina a curadoria com o diretor do Museu Casa de Rembrandt, Ed de Heer, a seleção das 83 obras presentes na exposição não foi difícil. Foram escolhidas obras essenciais, como As Três Cruzes e Cristo Pregando (Gravura dos Cem Florins), assim como um conjunto de trabalhos que representasse os vários temas tratados pelo artista em sua arte gráfica - que por sua simplicidade adquiriu uma diversidade maior do que a pintura.

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