Brasileiros e espanhóis reinam na Bienal

Os escritores são a grande atração da 10.ª Bienal Internacional do Livro. Os brasileiros Fernando Morais e Lygia Fagundes Telles recebem o prêmio Jabuti deste ano e Manuel Vázquez Montalbán é um dos 9 escritores espanhóis que representam a Espanha, país convidado do evento

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Por Agencia Estado
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Pepe Carvalho é uma das principais celebridades espanholas: autor de frases cínicas e atitudes cerebrais, suas aventuras policiais são recheadas de citações culinárias (além de detetive, ele é um orgulhoso gourmet) e conquistaram uma legião de admiradores, além de inspirar uma série televisiva, também sucesso na Espanha. Apesar da notoriedade, Pepe Carvalho é fruto da imaginação do escritor Manuel Vázquez Montalbán, um catalão de 62 anos que está no Rio de Janeiro para participar da 10.ª Bienal Internacional do Livro que começa nesta quinta-feira, no Riocentro. Montalbán encabeça uma lista de nove escritores espanhóis, os principais convidados do evento, que deve atrair cerca de 450 mil visitantes. Os autores ibéricos vão dividir atenção com os vencedores do Prêmio Jabuti, que será entregue na noite de sábado. Lygia Fagundes Telles foi eleita a escritora do ano, categoria ficcção, com Invenção e Memória, enquanto Fernando Morais, com Corações Sujos, foi escolhido como não-ficção. A escolha da Espanha como país convidado tem ramificados interesses - apesar de oficialmente ser uma opção natural depois de Portugal ter sido homenageado na edição paulistana do ano passado, os espanhóis estão também interessados no mercado editorial brasileiro, que movimenta cerca de R$ 2,2 bilhões por ano. Desde o final de 1998, cinco das maiores editoras brasileiras já foram contatadas por empresários espanhóis: Record, Objetiva, Companhia das Letras, Rocco e Nova Fronteira. A escolha da Espanha não passou pelo interesse deles nas editoras, contesta Roberto Feith, da Objetiva. Depois de Portugal, é o país que mais tem laços com o Brasil, completa Paulo Rocco, presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros. Os números, porém, puxam uma concordância. Para esta edição da Bienal, o número de expositores subiu para 808, um crescimento de 78% em relação a 1999 (454). Para tratar de um público de gosto tão eclético, os organizadores vão repetir a velha fórmula de unir, no mesmo espaço, intelectuais como Evaldo Cabral de Mello e Lygia Fagundes Telles com escritores novatos como Gabriel o Pensador e o médico Hosmany Ramos. A afinidade será um dos principais temas dos encontros dos escritores espanhóis com o público. Além de Montálban, autor de O Quinteto de Buenos Aires (Companhia das Letras), o outro nome de destaque é o de Carmen Posadas, ganhadora do Prêmio Planeta (o mais importante literário espanhol) e que vai lançar Um Veneno Chamado Amor (Objetiva). Estarão presentes ainda Antonio Soler, J.J. Armas Marcelo, Manuel Vicent, Carlos Casares, Gonzalo Suárez, Cristina Fernández Cubas e Manuel de Lope. Outros convidados internacionais prometem despertar a atenção de um público cativo. Como o sociólogo italiano Domenico de Masi, que vai lançar A Economia do Ócio (Sextante), outra reflexão sobre a construção do valor cultural do trabalho e do ócio. O título marca, ainda, o lançamento da coleção Para Ler na Rede, que o sociólogo está organizando para a editora. Outro tema polêmico vai ser tratado pela escritora americana Shere Hite, que causou furor nos anos 70 ao revolucionar os conceitos do prazer sexual feminino em Relatório Hite. Dessa vez, em Sexo e Negócios (Bertrand Brasil), ela defende que as relações afetivas entre colegas de trabalho são lucrativas para a empresa. Mais polêmica deverá provocar a presença do escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez, autor de O Rei de Havana e Trilogia Suja de Havana (ambas editadas pela Companhia das Letras) em que apresenta uma visão impiedosa de Cuba. O último livro, por exemplo, nunca foi editado em seu país. Às vezes, penso que me desnudei em demasia diante do público, escreveu. Entre os nomes nacionais, um dos mais festejados será o de Carlos Drummond de Andrade. Apesar de o centenário de seu nascimento ocorrer apenas no próximo ano, a Editora Record inicia a republicação de toda a sua obra a partir deste mês, começando com Alguma Poesia. O escritor também figura em um dos lançamentos da editora Ática, Rick e a Girafa, crônicas selecionadas para o público infanto-juvenil. Outro centenário a ser comemorado é o de José Lins do Rego. A José Olímpio Editora pretende montar uma exposição em seu estande, sob a curadoria de Stela Kaz, com fotos, primeiras edições e traduções importantes da obra do escritor. Será lançado ainda o livro O Menino Que Virou Escritor, de Ana Maria Machado. Já a Editora Nova Aguilar lança a quarta edição da Poesia Completa do simbolista mineiro Alphonsus de Guimarães, no ano em que se completam oito décadas de sua morte. Os leitores jovens continuam na mira da maioria das editoras, que prometem lançamentos diversos. A Salamandra, por exemplo, oferece O Fazedor de Amanhecer, de Manoel de Barros e Ziraldo, e Um Gato Chamado Gatinho, do poeta Ferreira Gullar. Já a Moderna lança novos títulos da clássica série Marcelo, Marmelo, Martelo, de Ruth Rocha, e aposta em Almanaque das Bandeiras, de Marcelo Duarte. Um dos principais escritores irlandeses da atualidade, Roddy Doyle escreveu Uma Estrela Chamada Henry, há dois anos. O livro, que foi apontado por diversos jornais britânicos e norte-americanos como a obra-prima do escritor, será o grande destaque da Editora Estação Liberdade. A preocupação do contato entre o público e os escritores orientou a maioria das editoras. A Geração Editorial tenta garantir, por meio de ofícios enviados à Justiça, a presença do médico Hosmany Ramos na Bienal. Condenado em 1981 por homicídio e outros crimes, ele cumpre pena na Penitenciária de Araraquara e espera sair de lá para o lançamento de Pavilhão/9 - Paixão e Morte no Carandiru, em que conta uma versão inédita para o massacre ocorrido em 1992. Menos complicada deverá ser a presença de Gabriel o Pensador, que vai lançar Diário Noturno (Objetiva), uma antologia de escritos de diversas épocas de sua vida. Nomes consagrados sempre rendem boa recepção. Assim, a Jorge Zahar Editor acredita que um de seus maiores sucessos deverá ser O Circo Eletrônico - Fazendo TV no Brasil, em que Daniel Filho conta suas experiências ao longo de 40 anos de carreira. Na contramão dos títulos cintilantes, algumas editoras investem em assuntos específicos e não menos importantes. Especializada em livros de cultura afro-brasileira, a Pallas lança Encantaria Brasileira e A Hierarquia das Raças. Já a Editora Unesp oferece a coleção Perfis Brasileiros, em que nomes consagrados da ciência nacional são apresentados a partir de uma entrevista inédita. O primeiro volume apresenta o trabalho do físico César Lattes. E a entrada do estande do Amazonas vai reproduzir a do teatro que leva o nome do Estado, com seis metros de altura.

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