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Brasileira é aposta para suceder Naomi Campbell

Nascida na periferia de SP, filha de uma doméstica, a modelo Ana Bela está há uma semana em Nova York para ver se cumpre a aposta de brilhar nas passarelas

Por Agencia Estado
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Ana Bela entrou em um ônibus que faz a linha Santo Amaro - Itaim com dois passes no bolso e uma forte intuição. Algo lhe soprava que, a partir dali, sua vida não seria a mesma. A mãe, empregada doméstica há 18 anos, a queria médica. O pai, distante desde que nascera, fala pouco com a família. Nem a garota de 16 anos explica o que a levou naquela tarde à agência Marilyn, no Jardim Paulistano. "É aqui que as meninas viram modelos?", perguntou ao chegar. Olhares arregalados dos funcionários da empresa foram a resposta. No dia seguinte, Ana assinava o contrato. Foram só oito meses para que sua intuição se confirmasse. Em tempo recorde, tornou-se uma das mais promissoras modelos do mercado. Negra, 1,78 m sustentado por inacreditáveis 45 quilos, tem deixado rastros pelas passarelas em que desfila. "Seu desempenho é, sem dúvida, acima da média", garante Milena Araújo, booker da Marilyn. No último São Paulo Fashion Week, Ana Bela tornou-se a primeira modelo não branca a desfilar para seis diferentes estilistas. Entre seus contratantes estavam gente do peso de Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga e Trosman Churba, além das marcas Cavalera, Zoomp e G. A fama corre em uma velocidade que a própria menina tem dificuldades para entender. "Ainda não sei direito o que aconteceu", diz, tímida. Suas curvas, já estampadas nas revistas Vogue Brasil, Mundo Mix e Elle, chegaram à Itália recentemente pelas páginas da Io Donna. Façanha maior concretizou-se há um mês. Agentes americanos da Marilyn de Nova York decidiram selecionar duas garotas brasileiras para integrar seu casting. Bateram o olho em Ana e não titubearam. Há uma semana, a paulistana da Vila Missionário, periferia da zona sul, divide um apartamento em Nova York com outras duas top brasileiras. Ana, mesmo sem falar três palavras em inglês, disputará espaço no mais feroz e concorrido mercado da moda internacional por dois meses. Se der certo, fica por lá e, periodicamente, passará a percorrer o circuito Milão-Paris-Nova York. Se não der, volta para recomeçar. "Seja o que Deus quiser" - Dar certo, em moda, é aparecer. Fechar contrato com campanhas publicitárias para produtos importantes, estampar as formas em revistas renomadas, ser dirigida por fotógrafos experientes. No caso de Nova York, a probabilidade de tudo isso acontecer despenca para menos da metade com relação a São Paulo. Se der certo, por outro lado, a glória está consumada. Dona Abelina Santos, a mãe de Ana, é tão expert em moda quanto a filha. Dois dias antes de sua menina partir, definia o que está acontecendo como uma intervenção divina. "Se Deus colocou estas coisas no caminho, seja então o que Ele quiser." Abelina criou Ana e duas outras garotas com o pouco que ganha como empregada doméstica. O marido foi embora e, raramente, mantém contato com a família. Quem ajudou na criação foi seu irmão, José Ferreira, que trabalha como vigia no Shopping Eldorado. A própria Ana Bela, não faz mais de dois anos, ajudava na renda familiar com a espécie de emprego que inventou. Ganhava trocados das vizinhas para levar seus filhos pequenos à escola. Sempre mais alta que as amigas, chamava a atenção desde criança. Por muitas vezes, ouviu dizerem que seu futuro estava mesmo nas passarelas. Os cachês pagos pelas campanhas publicitárias para as quais Ana Bela trabalhou não são revelados pelas empresas. "Ela já está ajudando muito em casa", diz a mãe. Para cada desfile no São Paulo Fashion Week, recebeu R$ 300. Em ensaios para revistas, chega a receber US$ 450. Quando um nome estoura nas passarelas e nos estúdios, os valores saem do mundo real. Basta lembrar que Gisele Bündchen, no desfile que fez para a Cia. Marítima, no São Paulo Fashion Week, recebeu US$ 80 mil. Isso por quatro rápidas voltinhas na passarela. A fé depositada em Ana Bela, principalmente por olheiros estrangeiros, explica-se também pela cor de sua pele. Depois de Naomi Campbell, o universo da moda não teve outra estrela negra que brilhasse nas mesmas proporções. "Há um vazio neste segmento", acredita a booker Milena. Quando chamarem a próxima, Ana Bela poderá ser a primeira da fila.

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