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Botafogo faz festa para fundação Rui Barbosa

Por Agencia Estado
Atualização:

Os 70 anos da Fundação Casa de Rui Barbosa, que se comemoram neste domingo, vão ser motivo de festa também para o bairro de Botafogo, na zona sul. Além de ser uma das mais importantes instituições culturais da cidade, onde se desenvolvem pesquisas nas áreas de literatura, história, lingüística e política, o casarão cor de rosa, em estilo neo-clássico, no centro de nove mil metros quadrados de jardins mantidos como na época de seu último dono são uma referência na região. "É a única área verde pública em Botafogo e os moradores vêm sempre aqui passar suas horas de folga", diz o presidente da Casa, Mário Brockmann Machado. "Mantivemos tudo como no tempo de Rui Barbosa, da arrumação da casa à disposição dos jardins, desde a criação do museu, em 1930, sete anos depois da morte dele", continua. "Os outros departamentos e centros de pesquisa surgiram para dar continuidade aos ideais de Rui de deixar seu acervo para pesquisadores futuros estudassem seu tempo". O casarão foi construído em 1850 e vendido a Rui Barbosa em 1904. Só dois anos depois ele se mudaria, devido a um exílio por se opor ao presidente Floriano Peixoto. Lá ele dava muitas festas ao lado da mulher, Maria Augusta, grande paixão só revelada recentemente, com a publicação das cartas trocadas pelo casal. Também montou sua imensa biblioteca, com 37 mil volumes. "Tudo ficou aqui porque após a morte dele, em 1923, dona Maria Augusta, só quis vender a casa e o acervo para o governo, embora tivesse propostas melhores de particulares", conta a diretora do Centro de Pesquisas da Casa, Rachel Valença. "Ela não queria dispersar a memória de Rui". Essa biblioteca deu origem à atual, com o acervo triplicado. "Rui não se dizia bibliófilo, alegando não ter amor ao livro objeto, e só usá-los como instrumento de trabalho", continua Rachel. "Mas ele tinha publicações que certamente não lhe serviram na vida política ou intelectual, só para o prazer estético". Exposição - Dessa coleção, 60 livros estarão expostos, a partir de hoje, na sala que Rui Barbosa usava como escritório, mantida como se ele ainda trabalhasse lá. "Há publicações raríssimas, que ele foi adquirindo ao longo da vida", adianta o pesquisador Luiz Guilherme Moreira, organizador da mostra. Ele cita uma edição de Os Sermões, do Padre Antônio Vieira, de 1679; Mémories de Mr. du Guay-Troin, diário de viagem lançado, em 1746, pelo corsário francês que seqüestrara o Rio de Janeiro três décadas antes; o compêndio Le Droit de la Guerre et de la Paix, de Hugo Grotius, e a estrela da coleção, A Divina Comédia, de Dante Aliglieri, edição de 1481. "Todos esses livros estão mantidos em perfeito estado de conservação porque temos oficinas pioneiras de restauração e preservação de papel", avisa diretora do Centro de Memória e Documentação, Magali Cabral. "O que não impede que pesquisadores os usem quando necessário ou que o público tenha acesso a seu conteúdo porque quase todo o acervo está microfilmado". A pesquisa é uma das principais atividades da Fundação Casa de Rui Barbosa e partiu do interesse que o personagem desperta entre historiadores do Segundo Império e da República Velha (os 50 anos em torno da última virada de século). Nos anos 70, o intelectual Plínio Doyle, então funcionário da casa, levou a sério uma queixa do poeta Carlos Drummond de Andrade sobre a falta de um museu de literatura no País. "Aí foi a origem do Arquivo Museu de Literatura Brasileira da casa, que hoje tem acervo de 70 escritores, entre eles, Vinícius de Moraes, Pedro Nava, Clarice Lispector e os já citados Drummond e Doyle", cita Rachel. "Estes acervos são constantemente consultados pela comunidade acadêmica brasileira e estrangeira e, só este ano, já passaram por aqui cerca de 60 pesquisadores". O mesmo acontece com os outros arquivos divididos em Ruiano (sobre Rui Barbosa), Histórico e de Filologia. "Nestes 70 anos, a casa conseguiu reconhecimento e isso nos permite parcerias para realizar nossos projetos", comemora Rachel. Os mais recentes foram com a Fundação Vitae, que permitiu a restauração dos carros usados por Rui Barbosa e do jardim. Além disso, há uma intensa programação de exposições (como a de livros raros), seminários e lançamento de livros extraídos do acervo. "Normalmente, as pessoas do bairro participam dessas atividades e freqüentam os jardins como área de lazer e até reclamam quando passamos muito tempo sem fazer nenhuma atividade", conclui Rachel. "Hoje a somos referência cultural e também na vida do bairro de Botafogo".

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