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'Bossa'50', realizada pela Eldorado, abre na terça para o público

Pavilhão da Bienal traz discos, músicas, fotos e figurinos de Ronaldo Fraga que contam a história da Bossa Nova

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Por Redação
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Os três primeiros versos de Samba de Uma Nota Só resumem Bossa'50, exposição da Rádio Eldorado, no Pavilhão da Bienal, sobre o cinqüentenário da bossa nova "Eis aqui este sambinha feito de numa nota só/ Outras notas vão entrar, mas a base é uma só/ Essa outra é conseqüência do que acabo de dizer."   Veja também:  Exposição Bossa'50    Parceria de Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, Samba de Uma Nota Só pode ser considerada a harmonia mais bem-acabada entre letra e melodia na bossa nova. Mas também serviu para os críticos dizerem que o gênero é uma repetição enfadonha, que não soube se modernizar depois de 1958.   Bossa'50, que é gratuita e vai até 24 de agosto, propõe-se a acrescentar outras notas à base do que já foi afirmado sobre o gênero. Para tanto, o curador da exposição - cuja abertura para convidados é nesta segunda-feira, 14, e para o público é na terça, às 10 horas -, Walter Garcia, volta às músicas do começo dos anos 1930 para entender as origens do gênero que estourou há 50 anos. Garcia afirma que a bossa nova, essa nota diferente na história da música nacional, é conseqüência do samba, gênero consolidado no fim dos anos 1910, mas com outras características.   No texto de abertura da exposição na Bienal, Walter Garcia define a bossa nova como um "samba íntimo, pois a batucada se concentrava no violão". Ela é criada por uma parcela da classe média que tentava se comunicar com o povo e que soube captar as contradições nacionais, no momento em que o Brasil trabalhava para se transformar de nação agrário-exportadora em urbano-industrial. O surgimento do novo gênero se ligou à expansão do mercado consumidor nacional e da indústria fonográfica. Ali se tentava a harmonia dos contrários.   A composição que inicia a linha do tempo de Bossa'50 é Coisas Nossas (1931), de Noel Rosa. Ela está na seção No Ar, que toca obras gravadas entre os anos 1930 e 40 no Brasil e nos anos 50 aqui e nos EUA. De Noel até João Gilberto, que, ao ter gravado um 78 rotações com Chega de Saudade e Bim Bom, lançou a bossa nova em 1958, houve transformações que possibilitaram a revolucionária batida joão-gilbertiana. A seção Caminho da Bossa apresenta os personagens que já anunciavam a revolução: João Donato, Dorival Caymmi, Johnny Alf e Maysa, entre outros. O que começou em casas noturnas do eixo São Paulo-Rio se transformou em disco para daí invadir o planeta, tema do painel Bossa no Mundo.   Na seção seguinte, Garcia optou por mostrar os resultados de 1958. Com a atmosfera política cada vez mais sufocante nos anos 1960, os brasileiros iriam conhecer as canções de protesto, das quais Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo são os grandes representantes. No fim da década, surge a Tropicália, que, segundo Walter Garcia, "rompeu com a bossa nova para lhe dar continuidade". "Mas, para explicar esse fenômeno, seria preciso uma exposição só sobre os tropicalistas", ele brinca. Entre as mais de 500 músicas, a mais recente é Subúrbio, composta por Chico Buarque para o CD Carioca (2006). Por esses painéis estão espalhadas mais de 250 fotografias, da Agência Estado e do acervo do fotógrafo Francisco Pereira.   No centro da exposição, um nicho em homenagem ao trio João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes divide espaço com 20 figurinos, criados pelo mineiro Ronaldo Fraga, que se inspirou em clássicos, como Minha Namorada e Coisa Mais Linda. Quatro salas de projeção vão exibir videoclipes criados a partir de três composições - Chega de Saudade, Wave e O Que Tinha de Ser -, além de trechos do programa Ensaio, de Fernando Faro. Num espaço que simula um apartamento, estão expostos 30 - os mais raros - dos 250 discos da coleção de Caetano Rodrigues, cujas capas contam detalhes da história do gênero.   O arquiteto Vasco Caldeira, responsável pela organização da Bossa'50, explorou o projeto da Bienal, feito por Oscar Niemeyer, para fazer uma exposição menos introspectiva que a da Oca, segundo explica. "As pessoas têm contato com o Parque do Ibirapuera, não colocamos nada que impedisse a visão para o que está além dos vidros da Bienal", ele diz. Na abertura da exposição para convidados, nesta segunda, às 19 h, Pery Ribeiro, acompanhado pelo Zimbo Trio, vai cantar Garota de Ipanema para Helô Pinheiro, musa inspiradora da canção de Tom e Vinicius, que ele foi o primeiro a gravar.   Números 250 discos, entre eles 30 raríssimos, pertencem à coleção de Caetano Rodrigues 500 músicas estarão disponíveis em 21 estações sonoras (listening stations) 250 fotografias do arquivo da Agência Estado e do acervo de Francisco Pereira foram usadas 20 figurinos foram criados pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga, que se baseou em clássicos da bossa nova, como Minha Namorada     Eldorado nasceu moderna para se tornar premiada   Uma Trajetória de 50 Anos: Nos anos 1950, a economia brasileira vivia um surto desenvolvimentista. O mercado consumidor expandia-se. Setores novos eram criados, como a indústria automobilística. E foi nesse momento, precisamente em 4 de janeiro de 1958, data de fundação de A Província de S. Paulo (depois O Estado de S. Paulo, com a República) em 1875, que surgiu a Rádio Eldorado. A proposta era criar uma programação eclética, operando em 700 kHz. A televisão engatinhava. As emissoras de rádio deparam-se com o desafio de inovar suas transmissões. Desde o início, a Eldorado combinou sofisticação, simplicidade e inovação, segundo Miriam Chaves, diretora executiva da rádio. Por isso ela identifica a Eldorado com o espírito da bossa nova. Nos anos 1960, com o regime militar, aparece a Rádio Eldorado FM - 92,9 MHz. Na década seguinte, é fundada a Gravadora Eldorado, a primeira com mesa de som em 16 canais na América Latina. A ênfase no jornalismo aumenta na década seguinte: surge o projeto pioneiro Repórter Aéreo: a bordo de um helicóptero, um jornalista indica as alternativas para fugir do trânsito. Nos anos 90, a Eldorado aposta em campanhas de cidadania. Em 2007, a rádio fez parceria com o canal de TV ESPN para transmissão de eventos esportivos, pela qual ganhou um APCA. Esse foi o último das dezenas de prêmios APCA, ganhos há mais de 20 anos. A Eldorado angariou premiações em vários setores: cultura, jornalismo, meio ambiente, música. No ano passado, levou 5.º Prêmio Docol Ministério do Meio Ambiente, Prêmio Top Comm Award, 5.º Prêmio Eloquium, Prêmio Abraciclo de Jornalismo e II Prêmio Empresa Sustentável.   Bossa'50. Pavilhão da Bienal. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, Portão 3, Parque do Ibirapuera, 5576-7600. 3.ª a dom., 10 h às 20 h. Grátis. Até 24/8.

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