Bonitinha e crítica

Novo filme inspirado na peça de Nelson Rodrigues retrata a crise de valores no Brasil atual

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Por Luiz Carlos Merten
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Escrita em 1962, a peça Bonitinha, Mas Ordinária, de Nelson Rodrigues, chegou à tela, pela primeira vez, em 1963. O diretor era J.P. Carvalho, que se assinava Billy Davis, e Jece Valadão fazia Edgard. A segunda adaptação, no começo dos anos 1980, foi feita por Braz Chediak, com Lucélia Santos como Maria Cecília e José Wilker como Edgard. Uma nova Bonitinha pede passagem. É a melhor de todas as versões, mas dada a mediocridade das anteriores o elogio é pouco para o filme de Moacyr Góes. A própria persona do diretor impunha reservas. Importante homem de teatro, Góes fez escolhas que o diminuíram aos olhos da crítica, quando passou a fazer cinema. Seus filmes com Xuxa e Maria Fernanda Cândido (Dom) são pouco recomendáveis, mas O Homem Que Desafiou o Diabo já possuía qualidades - que pouca gente, devido ao preconceito contra ele, se animou a ver. No recente Festival do Recife, o diretor admitiu que, pela primeira vez no cinema, escolheu, em vez de ser escolhido. Quis fazer Bonitinha convencido de que o texto de Nelson propõe "uma grande questão de vida: a crise de valores no Brasil atual". O filme, realizado há quatro anos, perdeu a data do centenário de Nelson, em 2012. A maior ousadia de Góes é deslocar o eixo dramático de Edgard para Peixoto. O canalha rodriguiano vira personagem trágico, numa criação memorável do irmão do diretor, Leon Góes.

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