Bom militante, fraco como legislador

Politicamente muito ativo, Gil tem uma agenda profissional feérica e diversificada. Neste Natal, ele fará um show na garagem de ônibus da Rocinha, com ingresso a R$ 5,00

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Por Agencia Estado
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A atividade profissional do ministeriável Gilberto Gil impressiona. Neste Natal, ele fará um show na garagem de ônibus da Rocinha, com ingresso a R$ 5,00 e renda revertida para projetos sociais na região. Nos dias 27 e 28, ele faz dois shows no Teatro João Caetano, do Rio, gravando ali um DVD do espetáculo Kaya N´ Gandaya, no qual homenageia Bob Marley. Também deve cantar na posse do novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. E, se o leitor procurar bem, vai encontrar o cantor em confronto recente com a expressão musical de sua época, a música eletrônica. Ele gravou uma faixa, Dia de Sol, ao lado do DJ Xerxes, na simpática coletânea Amp MTV 2, da Muquifo Records (nas lojas). Como ele acha tempo? Incansável, Gil também é sucesso absoluto como militante. Além da Fundação Onda Azul, ele integrou a Fundação Quadrilátero do Descobrimento, que conseguiu o tombamento de toda a região entre Porto Seguro e Cabrália, na Bahia, há alguns anos. Em anos recentes, mostrou-se muito próximo dos programas do governo Fernando Henrique Cardoso. Integrou o conselho do Comunidade Solidária, de Ruth Cardoso. Participou de comissões do Ministério da Cultura para discutir questões como direitos autorais e estímulo à produção mais alternativa. Somente o fiasco de sua atividade como legislador, quando vereador na Bahia, turva um pouco seu currículo. Foi secretário de Cultura de Salvador, em 1987. Um ano depois, anunciou que era candidato à prefeitura da capital baiana, mas não passou pela convenção do partido. Decidido, candidatou-se então a vereador e foi eleito com mais de 11 mil votos. Mas não se deu bem. Não se pode acusá-lo, no entanto, de ter se omitido nas grandes questões debatidas pela classe artística. Em julho, por exemplo, posicionou-se a favor da numeração dos CDs, desmentindo publicamente a Associação Brasileira dos Produtores de Discos - que divulgava apoio do cantor. Gil saiu de sua cidade natal, Ituaçu, na Bahia, em 1951, quando a cidadezinha tinha 900 habitantes. Só voltou à terrinha 45 anos depois, para gravar o documentário Tempo Rei, de Andrucha Waddington, sobre sua trajetória. Em 1963, tocava sanfona e era um seguidor apaixonado da bossa nova de João Gilberto. Contratado pelo Estúdio JS, de Salvador, vinha de ônibus desde o bairro Santo Antônio do Além do Carmo, onde vivia, para gravar jingles. Depois do exílio, em Londres, tornou-se um dos mais ativos e influentes entre os músicos e intelectuais brasileiros. São 42 anos de carreira, quase um disco por ano, sete filhos, quatro casamentos e um prêmio Grammy (o mais prestigioso da indústria americana) de world music, em 1999.

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