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Boca-de-urna mostra contradição na ABL

Por Agencia Estado
Atualização:

De duas uma, ou tem imortal prometendo votos a mais de um candidato à próxima eleição da Academia Brasileira de Letras ou o pleito, em 7 de dezembro deste ano, atingirá a estranha conta de 42 votos entre 39 eleitores. A vaga era do escritor Jorge Amado, que morreu no início deste mês e, dos seis candidatos inscritos, dois estão à frente, a viúva de Amado, a escritora Zélia Gattai, e o jornalista Joel Silveira. Partidários dela lhe garantem 25 votos e os dele contam ter 17 votos. Zélia vem ao Rio em setembro entregar os originais de seus 13.º livro, Código de Família, e aproveita a viagem para fazer as visitas em que o canditato pede voto ao imortais. Joel, que mora no Rio, não cumprirá o ritual. Aos 82 anos, sai de casa o mínimo possível. Ambos cumpriram o protocolo: antes de se anunciarem substitutos de Jorge Amado, escreveram aos acadêmicos comunicando sua intenção. É o que eles garantem, mas não encontram ecos em seus futuros eleitores. "Esta eleição está muito mídia. Os candidatos se anunciam na televisão antes de nos avisarem. Isso é indelicado" reclama o poeta Ledo Ivo, cabo eleitoral declarado de Joel Silveira. "Nada contra a Zélia, mas a vaga na Casa de Machado de Assis não se inclui na herança do acadêmico. Além disso, o Estado do Sergipe, onde o Joel nasceu, está sem representante. Ele tem, no mínimo, 15 votos." "A Zélia dispõe, fácil, de 25 votos", garante Arnaldo Niskier, que não declara o seu próprio. "E se aparecer um candidato daqueles que a gente considera fundamental à Academia? Ainda é cedo para declarar voto." Posição igual à de Josué Montello, autodenominado decano da instituição, por estar lá desde 1954. "Não declaro meu voto porque preservo o direito de mudar de idéia", explica Montello, que enfatiza sua insatisfação com a candidatura de Zélia. "Cria o precedente de a viúva ter de ocupar a cadeira do acadêmico. A posse é uma festa. A Zélia, se eleita, se emocionaria e faria da festa um acontecimento doloroso. Em outra vaga, ela é um ótima candidata." Para Carlos Heitor Cony, a vaga é dela. "Meu voto é da Zélia, mas votarei no Joel na próxima ocasião", diz ele. O presidente da Casa, Tarcísio Padilha, não emite opinião, assim como o advogado Evandro Lins e Silva e a escritora Nélida Piñon. Ela alega (e é verdade) estar escrevendo um novo romance e preparando cursos que dará nos Estados Unidos, mas deve estar ressabiada com o lançamento da candidatura de Jô Soares, durante uma entrevista no programa dele. "Foi indelicado", diz Niskier. "Mas Jô nunca foi candidato, porque não se inscreveu." Joel inscreveu-se atirando, como é seu estilo. Falou mal de Zélia, de Jorge e garantiu que Raimundo Faoro e Rachel de Queiroz lhe prometeram voto. "Me candidatei para evitar a unaminidade e a arrogância de Zélia e agora corro o risco de ganhar", diz ele, que chegou a insinuar que nem os irmãos de Jorge Amado concordavam com a candiatura de Zélia. "Tenho 17 votos prometidos." Na Bahia, Zélia evita polêmicas. Garante que não pensa em unaminidade e que tentaria outra vaga que não fosse a do marido. "Ainda estou curtindo minha dor", diz ela. Sua cunhada Luíza Ramos Amado, filha de Graciliano Ramos e mulher de James Amado, interfere para pôr fim a insinuações. "Estamos com a Zélia. Ela é a melhor pessoa para substituir o Jorge na Academia até porque tem obra literária."

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