Bobbio, um instituto para ensinar democracia

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Por Redação
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Quando se conta a história da Itália no século 20, três nomes são imediatamente evocados como "cardeais seculares": Giovanni Gentile (1875-1944), Benedetto Croce (1866-1952) e Antonio Gramsci (1891-1937), respectivamente um fascista, um liberal e um comunista. Faltou à lista um nome fundamental que transformasse o trio num quarteto, justamente o do democrata italiano Norberto Bobbio (1909-2004), que está sendo homenageado hoje, a partir das 18 horas, no Circolo Italiano, com a inauguração do instituto que leva o seu nome. Se as cinzas do vulcão islandês Eyjafjallajokull não cancelarem o voo, seu filho Andrea Bobbio e o ex-ministro italiano Massimo D"Alema estarão presentes para cortar a fita do Instituto Norberto Bobbio, no histórico Edifício Itália, no centro da cidade. É lá que, a partir de hoje, três pesquisadores e a coordenadora científica da entidade, Claudia Perrone, estarão recebendo os interessados na obra do filósofo, historiador e político italiano que dedicou sua vida à valorização do direito, da democracia e dos direitos humanos.O instituto foi criado há cinco anos por iniciativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), então dirigida por Raymundo Magliano Filho, ainda à frente da iniciativa, que visa a pesquisar e divulgar a obra do pensador italiano, autor de obras essenciais para o entendimento da sociedade contemporânea, entre elas O Futuro da Democracia (Paz e Terra) e Teoria Geral da Política (Campus). A atualidade de seu pensamento, segundo Magliano, impressiona. "Experimentamos um desenvolvimento econômico, mas não sei se a sociedade e as instituições estão preparadas para a democracia e a cidadania", diz o fundador do instituto, definindo as metas perseguidas por ele, baseadas em três premissas de O Futuro da Democracia: visibilidade, acesso e transparência. É dessa tríade que nascerá, espera, "uma democracia real, e não apenas formal".Magliano justifica a implantação do instituto como forma de chegar a todos os segmentos sociais. Há mais de três décadas estudando a obra do filósofo, o empresário, descendente de italianos, ajudou a popularizar a Bolsa de Valores de São Paulo (de 85 mil investidores em 2003 ela passou a 450 mil no final de seu mandato). E, como forma de retribuição, criou mecanismos para levar o pensamento de Bobbio à população carente, promovendo concursos entre escolares sobre direitos humanos e bancando a publicação de livros de Bobbio - dois foram editados pela Manole por meio do instituto, Da Estrutura à Função e Terceiro Ausente, ambos com prefácio de Celso Lafer. A mais recente tentativa de disseminar o pensamento de Bobbio veio pela criação de um blog (www.norbertobobbio.worldpress.com), que já recebeu 7 mil visitantes.A organização tem ainda uma biblioteca de acesso público com mais de mil volumes e promove cursos e debates sobre a obra de Bobbio, que revela forte influência de pensadores como Kant, Rousseau e Thomas Hobbes, além do jurista Hans Kelsen, com quem divide o credo neopositivista de que uma sociedade só é capaz de melhorar ao obedecer aos princípios da justiça, da liberdade e da igualdade. Bobbio, filho de família burguesa, fez oposição ao fascismo e foi condenado por integrar um grupo que combatia o ditador Benito Mussolini. Nos anos 1960 fez críticas ao Partido Comunista Italiano, condenando as Brigadas Vermelhas e lembrando que o passado histórico não passou de um "imenso matadouro". / A.G.F.QUEM ÉNORBERTO BOBBIO.FILÓSOFO, HISTORIADOR E POLÍTICOCV: Nascido em 18 de outubro de 1909 e morto em 9 de janeiro de 2004, em Turim, o pensador e jurista dedicou sua vida ao combate de regimes totalitários, filiando-se, já na juventude, a um grupo antifascista. Professor, ele ensinou ciências políticas até 75 anos. É autor do clássico Dicionário de Política (UNB)

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