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Blake é um prato cheio para a mídia

Ator acusado de ter matado a mulher possui, assim como a vítima, currículo cheio de tragédias e escândalos

Por Agencia Estado
Atualização:

Robert Blake, que ficou eternamente conhecido como o Baretta da televisão, é o protagonista do novo escândalo americano. O ator de 68 anos foi preso na sexta-feira sob acusação de ter matado a mulher, Bonny Lee Bakley, e pode pegar a pena de morte se chegar a ser condenado. A mídia aproveita para tentar transformar o caso em uma nova versão do julgamento de O.J. Simpson, mas o que mais chama a atenção do público são os detalhes do relacionamento entre Blake e Bakley. Blake é a típica vítima do "lado negro" do sistema de Hollywood. Ele começou a trabalhar como ator aos 5 anos e passou a sustentar a família. O pai ficou com ciúmes e virou alcoólatra _ o que fez com que ele saísse de casa. Nos anos 50, foi expulso do Exército e passou a ter problemas com drogas e bebida. Em 1966, a fama parecia ter chegado, com o papel no filme A Sangue Frio, mas, logo depois, a carreira estancou novamente. Foi só em 1974 que Blake conseguiu a fama com que sempre sonhou: ele aceitou, relutante, o papel de um policial em uma série de TV chamada Toma, que ele conseguiu mudar o nome para Baretta. Para Blake, ter de trabalhar na TV foi uma humilhação, já que ele se considerava um ator de cinema, por isso eram comuns as histórias de ataques de fúria nos sets de gravação. A série rendeu um Emmy de melhor ator, em 1975, e três anos e meio de sucesso. Depois disso, a carreira do ator teve poucos episódios memoráveis _ o que detonou um processo de depressão e comportamento instável. Ele fez telefilmes descartáveis, apareceu como um padre na série Hell Town, passou um ano andando pelos Estados Unidos em uma cruzada contra as armas nucleares e fez pontas no cinema em produções pouco percebidas, como Assalto sobre Trilhos e Estrada Perdida. Enquanto isso, Bonny Lee Bakley era uma mulher obcecada com celebridades, que começou posando nua, aos 17 anos, e viveu durante vários anos de um trambique que tirava dinheiro de homens solitários por meio de anúncios em seções de classificados pessoais. Nos anos 80, ela teria perseguido Jerry Lee Lewis e chegou a afirmar que o roqueiro era o pai de um de seus filhos. Na mesma época, ela se casou com um homem em Las Vegas e sumiu poucos minutos depois da cerimônia. Bakley também foi presa por usar identidades falsas. Em 1999, ela finalmente conseguiu o que queria quando passou a ter um caso com Robert Blake ao mesmo tempo que estava saindo com Christian Brando _ o filho de Marlon Brando que acabava de sair da prisão. São desta época as gravações de telefonemas em que ela fala sobre a felicidade de estar namorando com duas "estrelas". No mesmo ano ela ficou grávida e foi pedir ajuda a Blake, que ficou furioso com a notícia. Decepcionada, ela tentou extorquir dinheiro de Brando, mas um exame de DNA da criança provou que o pai era mesmo o "Baretta". Para o bem da criança, Blake acabou concordando em deixar que ela se mudasse para um quarto nos fundos de sua casa na região de Studio City, em Los Angeles. De acordo com a irmã de Bakley, eles nunca mais fizeram sexo depois da gravidez. Blake acabou concordando em se casar com ela, mas o relacionamento continuava estremecido. Na noite de 4 de maio de 2001, eles foram jantar em um restaurante e, na saída, Bakley teria ido para o carro enquanto ele teria voltado para o restaurante para procurar a arma que havia esquecido. Blake alega que, quando voltou, a mulher estava baleada no banco do carro. A polícia de Los Angeles demorou quase um ano para reunir provas para poder prender Blake _ uma ação que foi mostrada em cadeia nacional na sexta-feira. As autoridades alegam que ele matou Bakley porque se sentiu "encurralado" pela mulher. Ele está sendo acusado de assassinato, conspiração e duas solicitações de um crime (ele teria tentado encomendar a morte a um segurança anteriormente). O ator alegou, ontem em Los Angeles, que não é o culpado e a defesa citou um "homem misterioso" que estaria perseguindo Bakley. A imprensa americana está sendo rápida em tentar transformar o caso em uma nova versão do julgamento de O.J. Simpson, que também foi acusado de matar a mulher. Embora o julgamento deva despertar bastante interesse (principalmente por conta dos detalhes sórdidos do passado de Bakley), é difícil imaginar que a repercussão seja a mesma. O caso do ex-jogador, que garantiu quase três anos de cobertura intensa, tinha o tempero das questões raciais e chocava pelo fato de que Simpson sempre foi conhecido pelo bom temperamento. Blake, por outro lado, sempre falou abertamente sobre sua instabilidade emocional. De qualquer maneira, a presença de uma celebridade _ por menor que seja _ em um tribunal sempre pode render em um país sedento por escândalos.

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