PUBLICIDADE

Biografia mostra lado feiticeiro de Newton

O jornalista científico inglês Michael White reconstitui com equilíbrio a vida de Isaac Newton (1642-1727) e defende a tese de que a alquimia, da qual o cientista era um aplicado praticante, tinha uma relação com sua obra bem mais forte do que se poderia imaginar

Por Agencia Estado
Atualização:

Em Isaac Newton - O Último Feiticeiro, o jornalista científico inglês Michael White não sé reconstitui com equilíbrio a vida de Isaac Newton (1642-1727) como propõe uma tese de causar arrepios na ciência contemporânea: a de que a alquimia, da qual o cientista era um aplicado praticante, tinha uma relação com a obra newtoniana bem mais forte do que se poderia imaginar. Todo gênio tem uma estrada peculiar e a de Newton começou no próprio nascimento: o Natal de 1642, na aldeia de Woolsthorpe, no leste da Inglaterra, gerando a lenda de que aquele era um ser especial. White mostra que ele apreciava essa suspeita e acreditava que Deus o incumbira de revelar a verdade aos homens. Órfão de pai ainda antes de nascer, aos 3 anos viu a mãe partir para morar com o novo marido. Essa separação, de 1646 a 1654, deixou marcas profundas na psique do menino, que saiu cedo de casa. O jovem Newton tinha enorme capacidade de aprender sozinho. Isso chamou a atenção do diretor da escola, Henry Stokes, que o ajudou a ser aceito em Cambridge, em 1661. Reservado e de temperamento complicado, o rapaz teve dificuldades em relacionar-se. Conheceu John Wickins, que se tornou seu companheiro de quarto por mais de 20 anos, permitindo que ele transformasse o aposento num laboratório alquímico. Cambridge foi o reduto onde, na sua trajetória de aluno a professor, Newton elaborou suas contribuições mais importantes à ciência, como o cálculo diferencial, a teoria da luz e a lei da gravitação universal, além do próprio método científico - antes dele, não se dava importância à verificação experimental das hipóteses. Desenvolveu tudo isso enquanto praticava a alquimia. A antiqüíssima alquimia já era malvista naquela época, mas ainda contava com um número considerável de adeptos nos meios intelectuais. Sua proposta de servir como ferramenta de refinamento interior enquanto transmutava a matéria - obtendo o ouro do chumbo com a pedra filosofal ou o elixir da longa vida - deve ter seduzido um Newton ávido por conhecimento e ansioso por decifrar o universo. White também ilustra bem o ego gigantesco do cientista, sua ânsia de poder e reconhecimento (que o levou a disputas famosas com intelectuais como Leibniz e Robert Hooke), a intolerância, os discretos relacionamentos amorosos (o mais visível com o matemático suíço Fatio de Duillier) e o zelo pela própria imagem. Mostra a inesperada competência de Newton ao assumir o posto de guardião da Casa da Moeda, em 1696, e recuperar a credibilidade da moeda nacional; e a calculada ascensão social proveniente daí. Traça, enfim, uma das mais abrangentes e reveladoras biografias desse luminar do pensamento humano. Faltou, talvez, escavar mais os conhecimentos astrológicos de Newton, mencionados en passant no início; mas a investigação sobre a alquimia na vida do cientista já é iconoclasta o suficiente para justificar o interesse do livro. Isaac Newton - O Último Feiticeiro, de Michael White. Editora Record, 378 páginas, R$ 40

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.