"Bilhete" volta ao cartaz em SP

Peça de Marici Salomão abre nova temporada na cidade, destacando as diferentes percepções do tempo, na velhice e na juventude

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma decadente estação de trem abandonada pelo tempo, duas mulheres, em uma plataforma vazia, se encontram. Uma é jovem, a outra, uma senhora. Durante 50 minutos essas personagens debatem sobre a vida, sobre os sonhos, buscas e realizações. Bilhete, peça de Marici Salomão, sob a direção de Celso Frateschi, atual secretário da Cultura do município, volta à cidade. Desta vez, o palco escolhido foi o do Centro Cultural São Paulo. Para essa temporada, as atrizes Nádia De Lion e Renata Airoldi, trazem à tona diferentes maneiras de lidar com o tempo, mais do que o simples embate entre o velho e novo. "Quis destacar a relação da percepção do tempo na velhice e na juventude. O público tem abertura para escolher se são duas personagens, ou o encontro de uma mulher com ela mesma", diz Marici. Na plataforma, a mais jovem aguarda o trem que a levará para uma cidade ainda menor do que aquela em que ela está, ansiosa para se encontrar com uma amiga doente. A moça soube da enfermidade após o recebimento de um bilhete. A velha utiliza a plataforma como cenário para os seus passeios. "A peça possui tempo, espaço e ação, tudo claro e definido. As cenas ocorrem em tempo real, sem elipses ou saltos, um desafio para o ator que precisa manter o interesse de seu personagem durante os 50 minutos de espetáculo. O espaço é a estação ferroviária decadente, que pode ser uma metáfora da maneira como nos abandonamos, nos deixamos de lado, e, por fim, o encontro que revela a busca por ideais." Marici também trabalha com o duplo. "Elas discutem a realização e a questão do abandono. De viver ou simplesmente de ver a vida passar. Posso dizer que tenho uma velha e uma nova dentro de mim, quis discutir o que acontece caso elas se encontrem." A direção de Celso Frateschi deu um toque poético a Bilhete. Para a atriz Nádia De Lion, que interpreta a personagem velha, a peça é rica em sutilezas. "A Marici trata, com delicadeza, sensibilidade e até mesmo um certo humor momentos distintos da vida. Como se ela abrisse as portas do sonho dentro da realidade." Nádia, que também produziu a peça, realizou algumas modificações em sua personagem em relação à primeira montagem. "Carolina Miranda interpretava o papel da jovem. No entanto, nessa temporada, ela não pôde participar e convidamos Renata Airoldi para o papel. Fiz algumas adaptações a partir da interpretação de Renata. Também repensei o meu papel, pude estudar e amadurecer", afirma. Renata foi escolhida por adaptar-se à personagem, com jeito de menina e densidade dramática. "Fiquei encantada com o texto, que aparentemente é simples, mas discute questões íntimas do ser humano. Um projeto bonito, que mistura profundidade com poesia." Para elaborar sua personagem, a atriz contou com o apoio de Frateschi e Nádia. "Juntos, pensávamos como aquela moça estava se sentindo, por que estava ali, enfim, trabalhamos as sensações, para depois dar uma forma. Fizemos várias leituras e repetimos muitas vezes algumas cenas até alcançar um bom resultado." A atriz formada em artes cênicas pela Unicamp mergulhou no texto e dedicou-se integralmente ao projeto. "Foi uma busca interior, para depois apresentar o resultado. Durante o processo de criação muitas descobertas me surpreenderam e me emocionaram." No currículo, trabalhos ao lado de Renato Cohen, Neide Veneziano e atuação na mostra Cemitérios de Automóveis, organizada por Mário Bortolotto, no CCSP. Para este ano, as atenções de Renata Airoldi voltam-se para o cinema. Além de acompanhar a exibição de Cama de Gato, de Alexandre Stockler, em diversos festivais, ela pretende investir na atuação em curtas e longas. "Vou para Nova York e quem encerrará a temporada de Bilhete será a Carolina. Pretendo acompanhar ao máximo o filme nos festivais e quero me aprofundar mais nessa linguagem." Bilhete. Drama. De Marici Salomão. Direção Celso Frateschi. Duração: 50 minutos. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 10,00. Centro Cultural São Paulo - Sala Paulo Emílio Salles Gomes. Rua Vergueiro, 1.000,em São Paulo, tel. 3277-3611. Até 16/2.

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