Bienal reúne seus 50 anos de história em livro

Escrito pelo crítico de arte Agnaldo Farias, lançamento será hoje, na Bienal Store

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Por Agencia Estado
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Para além de uma comemoração histórica e homenagem ao industrial-mecenas Ciccilo Matarazzo, o lançamento do livro comemorativo Bienal 50 Anos, na noite de hoje, pode ser visto como tentativa de enterrar definitivamente o longo e turbulento período de crises internas que abalou uma das mais importantes mostras de arte do mundo, aplainando o acidentado terreno rumo à inauguração da 25.ª Bienal de São Paulo, em março. Também o atraso de sete meses na finalização do livro acaba revertendo para o bem da instituição, já que a mostra que marcaria seu lançamento oficial, também chamada Bienal 50 Anos, foi plataforma para um tiroteio de críticas a seu projeto curatorial e montagem, que reuniu sob o mesmo teto arquitetos, designers e artistas plásticos, em maio - época em que a polêmica do segundo adiamento da 25.ª estava ainda fresca na memória. Mesmo fora do cronograma, a chegada do livro é bem-vinda, já que a última compilação da história das Bienais, da crítica de arte Leonor Amarante, é de 1989 e chegava até a 19.ª edição (1987). "Apesar da grandeza da Bienal, pouca coisa se escreveu sobre ela. É um infinito manancial de estudo e pesquisa, ainda por ser mais bem explorado", diz Agnaldo Farias, autor do livro e curador do núcleo brasileiro da 25.ª Bienal. O crítico de arte também assina o texto Um Museu no Tempo, um longo ensaio de abertura, que trata a Bienal como um termômetro, e vitrine privilegiada, do que a arte produziu nas últimas cinco décadas. Outro texto inédito, São Paulo de Ciccillo Matarazzo, da pesquisadora Rosa Artigas, conta a história do surgimento da megamostra e a situa no efervescente cenário cultural paulistano do período. Mas o filé mignon de Bienal 50 Anos é a cronologia completa, ano a ano, que ocupa quase 200 páginas e destaca as particularidades de cada edição, com um texto inédito para cada uma, relação de artistas premiados (até a 14.ª, 1977), número de artistas participantes por país e um pequeno panorama político-econômico e cultural, do Brasil e no Exterior - além de obras que foram expostas na época. O atraso no lançamento do livro - que deveria ter sido no fim de maio - Farias atribui justamente à dificuldade em encontrar, no Brasil e no exterior, imagens de obras que de fato foram vistas pelo público em bienais do passado. Outro problema, segundo ele, foi conseguir seus direitos de reprodução. "Mas foi até bom o livro não ter saído naquele momento, em que ataques levianos e pessoais construíram um debate que não era imparcial", acredita o crítico, referindo-se às pesadas críticas que recaíram sobre a curadoria e montagem da mostra comemorativa Bienal 50 Anos. Mesquinharias - A primeira mudança na data da 25.ª edição ocorreu há pouco mais de um ano, quando o Pavilhão da Bienal foi cedido para a Mostra do Redescobrimento. A megaexposição, que levou ao Ibirapuera um público recorde de mais de 1,8 milhão de visitantes, ficou em cartaz por cerca de seis meses, o que impossibilitou a realização da 25.ª Bienal em 2000, ano agitado ainda pela disponibilização dos cargos do arquiteto e construtor Carlos Bratke, presidente da Fundação Bienal, e do presidente do conselho, Luiz Seraphico. Bratke foi confirmado no cargo pelos conselheiros, mas Seraphico foi obrigado a pedir demissão. O crítico de arte Ivo Mesquita, chamado para ser curador da 25.ª, já em 2001, discordou publicamente de um novo adiamento, agora para 2002, aprovado pelo conselho. Bratke reafirmou que seria impossível realizar outro megaevento logo depois da Mostra do Redescobrimento e demitiu Mesquita. Em novas reviravoltas, o curador foi reintegrado. Para em seguida pedir demissão. Confirmado o novo adiamento, a exposição Bienal 50 Anos, em que esse livro deveria ter sido lançado, foi uma solução intermediária - mesmo que justa homenagem a Ciccillo Matarazzo e às cinco décadas de sua mais importante criação. Na visão de Agnaldo Farias, todos os problemas pertencem ao passado e já estão superados. "É claro que nada disso foi bom para a instituição, mas a Bienal sempre provou ser maior que eventuais distenções", afirma ele. "Não podemos permitir que mesquinharias e brigas internas abalem nosso maior evento." A obra assinada por Farias teve coordenação-geral de Glória Bayeux e projeto gráfico de Ricardo Ohtake. O patrocínio é da Unisys. Bienal 50 Anos. De Agnaldo Farias. Editado pela Fundação Bienal. 352 páginas. R$ 120,00. Hoje, às 19 horas. Pavilhão da Bienal. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n.º, tel. 5574-5922.

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