Bienal quer aproximar leitor do autor

O evento privilegia o encontro do leitor com o autor. O centenário de nascimento dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles será lembrado com palestras e dramatização de seus textos

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Bienal do Livro do Rio de Janeiro chega a sua décima edição, a partir desta quinta-feira e até o dia 27 com um agradável dilema: como crescer sem inchar? O comparecimento do público, prova incontestável de seu sucesso, não pode aumentar, com risco de diminuir o conforto e a segurança do evento. O jeito é melhorar a programação oficial. Como em 1999, privilegia o encontro do leitor com o autor. O centenário de nascimento dos poetas Carlos Drummond de Andrade (31 de outubro) e Cecília Meireles (7 de novembro) vai ser lembrado com palestras e dramatização de seus textos. "Trocamos o conceito de feira de livro, que privilegiava a venda, pelo de encontro entre o público e o escritor. O objetivo da Bienal não é só fazer negócios, mas promover o livro e seu autor e aproximá-lo de quem lê", diz a coordenadora da programação, Rosa Maria de Araújo. No ano passado, ela pesquisou as editoras e livrarias brasileiras e se surpreendeu. "Há mais de 30 títulos sobre futebol, outro tanto sobre sexo e mais ainda tentando pensar o Brasil e a cidadania. Nossos eventos vão privilegiar esses assuntos." A Espanha, país homenageado, mandou nove escritores, metade deles já editados no Brasil. Os 90 anos do Prêmio Nobel Camilo Cela impedem sua vinda, mas já estão no Rio estrelas como Carmen Posadas, Antonio Soler e Carlos Casares e Manuel de Lope. Mais de cem brasileiros participam dos eventos e, de outros países, já estão convidados o italiano Domenico de Masi (falando sobre ócio), a inglesa Margaret George (autora de biografias romanceadas que, desta vez, adicionou pesquisa histórica às aventuras de Cleópatra), a americana Shere Hite (que falará sobre seu último livro, Sexo e Negócios) e o cubano Pedro Juan Gutiérrez (que escreve sobre o submundo de Havana). Além de 35 cafés literários e fóruns de debates (a diferença está no tamanho da platéia) sobre assuntos tão variados quanto biografias, cidadania, humor, poesia, dicionários, etc, estão previstos os chamados eventos nobres, que devem atrair gente de todas as idades e gostos. De longe, o mais charmoso será a leitura dramática da peça Dona Rosita, A Solteira, de Federico García Lorca, no domingo. É um clássico pouco presente nos palcos brasileiros e o grande atrativo é a atriz Glória Pires no papel título. Ainda não é sua aguardada estréia no palco, mas chega perto. A Bienal começa amanhã com a conferência A Espanha de Dom Quixote, pelo historiador Evaldo Cabral de Mello. Ele é irmão caçula do poeta João Cabral de Mello Neto. Também diplomata, serviu durante muitos anos na terra de Cervantes e tornou-se um especialista no país. No sábado, é a vez de Domênico De Masi e, no dia seguinte, os espanhóis vão falar sobre a diversidade de seu país e a conseqüente criação literária na mesa-redonda Os Herdeiros de Cervantes. Os autores brasileiros fazem o mesmo no dia 25, discutindo Como Vai a Literatura Brasileira, também em mesa-redonda. A se repetir 1999, a Bienal do Livro vai ser o programa do carioca adulto e culto a partir de amanhã. Mais de 550 mil pessoas passaram pelas roletas, 63% delas com idade entre 20 e 40 anos e 54% com curso superior. Aí estão computadas também as visitas escolares, para alunos de 1.º e 2.º Graus, geralmente durante a semana. O sucesso foi tão grande que, este ano, um mês antes da abertura do evento, já não era mais possível marcar a visita de escolas. "Se aparecer mais gente, certamente perderemos em qualidade e conforto", diz Rosa de Araújo. O presidente da empresa que organiza a Bienal, a Faga, Arthur Rapsold, concorda. Já em 1999, ele se preocupava com o aumento do público e previa a necessidade de contê-lo. Mesmo se levando em conta que o Riocentro, sede do evento, só é acessível de carro. Está localizado em Jacarepaguá (na zona oeste), mais ou menos perto do Rock in Rio e do Autódromo. O estacionamento é caro (nunca inferior a R$ 5,00) e o ingresso não é barato (R$ 6, 00 por pessoa, estudante paga a metade). Crescer no tempo (mais dias de programação) ou no espaço (usar outros pavilhões do Riocentro) é solução a longo prazo porque o local é único na cidade para grandes eventos e está reservado para os próximos dois anos. Mesmo assim, a 10.ª Bienal do Livro aumentou o seu número de expositores. A Espanha ocupa uma área de 500 metros quadrados, quase o dobro do que Portugal, o homenageado da Bienal anterior, ocupou. A organização do evento jura que a idéia da homenagem é anterior ao interesse que as editoras espanholas têm pelo mercado brasileiro, mas o Ministério da Educação e Cultura e a Federação de Editores de lá vão ocupar mais da metade do espaço e já marcaram encontros de negócios com empresários do ramo no Brasil.

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