Bienal do século 21 aposta em novos formatos

A curadora Lisette Lagnado adianta mais novidades sobra a Bienal, além de comentar aspectos gerais da lista de artistas convidados

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ainda faltam dois meses para a inauguração da 27.ª Bienal de São Paulo, em 7 de outubro, mas a curadora-geral desta edição da mostra, Lisette Lagnado, já tem muito o que falar. Confira a entrevista concedida ao Estado, por e-mail. Como andam os preparativos para a 27.ª Bienal? Pouco menos de um mês após a divulgação da lista dos convidados já é possível ter uma idéia mais concreta do que será mostrado em outubro? Como esta Bienal se define por ser uma Bienal com trabalhos novos, não temos uma idéia muito ?concreta? de tudo que será mostrado, pois a construção das peças está em andamento. Esta é uma Bienal de processo. O importante é que partimos de um pré-projeto conceitual com dois vetores fortes: ?projetos construtivos? e ?programas para a vida?, ambos inspirados no Programa Ambiental de Hélio Oiticica. De que maneira, fisicamente, se traduzirá essa idéia de que a 27.ª Bienal não está restrita às paredes do prédio no Parque do Ibirapuera? Está prevista alguma intervenção artística em área pública? Alguns artistas propuseram implantar sua obra fora do Pavilhão do Oscar Niemeyer, porém ainda dentro do Parque do Ibirapuera. É o caso do Atelier Bow Wow, Damian Ortega, Dominique Gonzalez-Foerster, Dan Graham, Renata Lucas, Hector Zamora. Fora do pavilhão e fora do parque, o público poderá ver o trabalho de Zafos Xagoraris e do Jamac, para citar dois exemplos. Mas é importante frisar que um artista pode estar simultaneamente na cidade e no catálogo, com obras diferentes; ou no Pavilhão e na Quinzena de Filmes. A noção de generosidade com a obra de cada artista pauta todas as discussões curatoriais para não haver apenas um trabalho extraído de seu contexto de origem. É uma Bienal que quebra categorias, que aposta em novos formatos de exposição, como os seminários, que ampliou sua agenda no tempo e no espaço, por meio de residências de artistas estrangeiros no Brasil. Uma das bandeiras apresentadas como novidade em seu projeto curatorial para a 27.ª Bienal de São Paulo é o fim das representações nacionais. Algumas pessoas, como a artista Maria Bonomi, questionam o ineditismo dessa medida. Ela cita o exemplo da 14.ª Bienal, da qual participou. Qual seria o fator novo no modelo que você propõe em relação a esse tópico? Por que você acredita que a tentativa anterior não deu certo? Sei que foi uma Bienal de ruptura, mas não quero polemizar com Maria Bonomi. Ela sabe melhor do que eu o que é uma Bienal com artistas indicados pelas embaixadas (cf. As Bienais de São Paulo/ 1951 a 1987, Leonor Amarante, p. 246 e ss.) e a 27.ª Bienal que fez todos os convites a partir da equipe curatorial (Adriano Pedrosa, Cristina Freire, José Roca, Rosa Martínez e Jochen Volz) no ambiente de maior liberdade à autonomia da crítica. E a 14.ª Bienal ainda adotava o sistema de premiação. O Prêmio Itamaraty foi para a Argentina, a Itália, o Japão e a Suíça, com direito a um ?prêmio especial? para o Suriname. Uma característica interessante da lista dos selecionados é o fato de muitos dos artistas serem nômades, terem migrado de seus lugares de origem para se estabelecer em cidades de grande força no circuito internacional de arte, como Nova York e Berlim. Esse choque geopolítico foi intencional ou há hoje em dia uma necessidade crescente de o artista estar aonde o dinheiro está? Esta característica existe há mais de décadas. Porém, como desta vez não publicamos a lista por nacionalidade, ficou evidente a disparidade entre local de nascimento e local de residência. Os artistas vivem em várias cidades ao mesmo tempo e fazem uma residência artística atrás da outra. Florian Pünshol está indo para o México. A idéia é também questionar o que é uma pátria, o que é exílio e asilo. A mostra contará com um número significativo de coletivos, como Atelier Bow-Wow (Tóquio); Superflex (Copenhague); Jardim Miriam Arte Clube (São Paulo), Taller Popular de Serigrafia (Buenos Aires). Como se dá a relação entre criação coletiva e a proposta desta edição da Bienal? Haveria um fortalecimento internacional dos grupos de criação ou essa presença decorre do próprio tema da Bienal, Como Viver Junto, inspirado em Roland Barthes? A recorrência de ?grupos? ou duplas não foi uma busca a priori. Quando a lista foi fechada, percebemos que havia não só esta característica, como artistas que, mesmo convidados sozinhos, como Paula Trope, Jarbas Lopes e Laura Lima, estarão trabalhando em parcerias e colaboração. Concordo que decorre do próprio tema Como Viver Junto, mais do que uma tendência propriamente. O projeto curatorial contempla uma vasta programação de cinema e vídeo. Por que a incursão desse segmento? Quais os conceitos que norteiam o núcleo e como foi estruturada a programação que inclui cineastas? Quando adolescente, lembro-me de ir à Bienal ver ?programas de filmes?. Este bloco é um dos pontos fortes da Documenta de Kassel, por exemplo. Inicialmente, meu pré-projeto pretendia evitar projeções longas dentro de uma situação nem sempre confortável para assistir a um filme. Mas depois percebemos que o audiovisual é de fato a linguagem mais recorrente. Então, o que foi definido para a Quinzena? Os filmes históricos que marcaram o pensamento de Hélio Oiticica sobre a imagem-movimento; as pré-estréias mundiais de alguns artistas (bienais de arte hoje competem com festivais de filmes em um nicho parecido); e uma amostragem de obras anteriores de certos artistas, no sentido de deixar o projeto museográfico mais ?limpo?. Mesmo assim, o Pavilhão ainda terá muitos filmes... Está confirmada a participação de Godard e Fassbinder?De que forma e como eles se inserem dentro do conceito geral da mostra? Sim. Godard era ídolo de Hélio Oiticica e foi fundamental para a conceituação de ?quase-cinema?. Fassbinder é um cineasta presente na obra de Jeanne Faust.

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