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Bienal do Mercosul discute a pintura

Em outubro, Porto Alegre será capital das artes na América Latina, com a abertura da 3.ª Bienal do Mercosul. A pintura será o eixo da mostra que reunirá a produção artística de todo continente

Por Agencia Estado
Atualização:

Em outubro, Porto Alegre volta a ser a capital das artes na América Latina, com a abertura da 3.ª edição da Bienal do Mercosul, que vai congregar na cidade não apenas a produção artística de todo o continente - com um evidente predomínio da arte brasileira -, mas também estimular a discussão e o debate em torno de certos temas. Este ano, o eixo central da mostra será um tanto quanto inusual nestes tempos em que o hit parece ser a eletrônica: a pintura. As atrações especiais do evento, que incluem mostras de Diego Rivera, Edvard Munch e uma seleção da produção contemporânea chinesa, também põem em destaque a arte bidimensional. Segundo Fábio Magalhães, curador pela segunda vez consecutiva do evento, essa é uma oportunidade imperdível de desmistificar a idéia de que pintura e arte contemporânea são coisas desconexas. Segundo ele, o que vemos é a sobrevivência de elementos fortes da linguagem pictórica, quer nas telas, quer na fotografia, ou ainda em obras tridimensionais que têm como fator constitutivo elementos centrais dessa tradição, lidando com questões como a superfície, a matéria e a cor. Essas três questões constituem um verdadeiro tripé formal sobre o qual está assentado o pensamento curatorial. Abordagem formal - "Não se trata de discutir a questão do suporte, como foi feito há algumas bienais (a 22.ª edição teve por tema a desmaterialização da arte), mas de mostrar que muitas vezes o artista trabalha com elementos historicamente relacionados com a pintura", afirma o curador, lembrando que há uma forte resistência da tradição pictórica na América Latina e uma grande produção em São Paulo e cita nomes como os de Marco Gianotti, Paulo Pasta, Paulo Whitaker e Sérgio Fingermann para embasar sua afirmação. O aspecto temático, o uso da pintura como forma de reflexão sobre o mundo, também não tem a mesma importância que teve no passado. Entre os 51 artistas convidados a participar desse segmento e que estarão reunidos no Centro Cultural Santander - a ser inaugurado na capital gaúcha - há também uma presença significativa de intervenções cujo suporte não tem uma relação direta com a pintura, mas para as quais questões como cor e textura são essenciais. É o caso, por exemplo, de Pazé, um jovem artista que vem obtendo grande destaque nos últimos anos e que cria painéis monocromáticos de impressionante intensidade e movimento por meio do acúmulo de milhares de canudinhos dentro de caixas de acrílico. Ou então do baiano Airson Heráclito, que realiza verdadeiras pinturas tridimensionais usando como único elemento o azeite de dendê bruto e suas variações de tom. Mas nem só de tradição formal da arte será feita essa Bienal. Haverá também um importante núcleo de intervenção urbana do qual participam 13 artistas (11 brasileiros, uma argentina e um chileno) e uma série de performances, a serem realizadas no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em fase de fechamento, mas que ainda mantém alguns internos. As intervenções devem concentrar-se na primeira semana de funcionamento da mostra, assim como um ciclo de palestras e debates, que já tem confirmadas as presenças de críticos de renome mundial, como Harald Szeemann (curador da atual Bienal de Veneza), Pierre Restany e Achile Bonito Oliva. Mesmo com uma predominância também absoluta do time brasileiro (entre os 15 artistas há, novamente, apenas um argentino e um chileno), Magalhães acredita que a performance continua com uma força extraordinária, "resgatando um pouco a essência do pós-moderno, do contemporâneo, ao propor a ruptura e a integração entre as várias formas de expressão artística". Magalhães considera a adoção do sistema de exposição em contêineres à margem do Rio Guaíba (51 dos artistas convidados receberão um contêiner como área expositiva, tendo de lidar com o desafio de criar para esse espaço e altamente simbólico e criar uma obra especialmente para essa área exígua) facilita o intercâmbio de informações e criará uma dinâmica de troca entre os artistas, que serão obrigados a comparecer massivamente ao evento. Para resgatar esse clima de interação, o catálogo geral da mostra - também será feita uma publicação específica para as exposições especiais - conterá um ensaio especial, em preto-e-branco, de Gal Oppido, registrando essa convivência entre os artistas. A diagramação das publicações será de Carlito Carvalhosa (presente no evento com uma grande escultura de gesso) e o patrocínio é da Editora Takano.

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