Bienal de Veneza põe abaixo a ditadura dos curadores

A famosa mostra de arte contemporânea abandonou a fórmula das megaexposições definidas por uma tese curatorial, única. Em entrevista ao Estado, o curador Francesco Bonami explica por quê

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Por Agencia Estado
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Uma das mais importantes mostras de arte contemporânea do mundo, a chamada Bienal de Veneza (o nome correto é Exposição de Artes Visuais), chega à sua 50.ª edição com um antitema, uma questão filosófica daquelas que parecem negar a própria existência: "A Ditadura do Espectador - Sonho e Conflito". O responsável por essa nova e controversa proposição da Biennale é um florentino de 48 anos que milita desde 1987 nas artes visuais dos Estados Unidos: Francesco Bonami. Diretor também do Museu de Arte Contemporânea de Chicago, ele é membro do conselho permanente da Manifesta e da Trienal de Yokohama. A 50.ª exposição de arte da Bienal de Veneza será aberta ao público de 15 de junho a 2 de novembro de 2003. A nova bienal, segundo Bonami, quer contrapor-se à idéia que a megaexposição tem seguido desde os anos 60: a visão onipresente do curador que, segundo ele, não cabe mais no mundo fragmentado em que vivemos. "Já não existe mais aquela tese de um curador que possa fazer de tudo uma unidade", disse Francesco Bonami. "Nesses tempos de globalização, esse método, que tinha sido decisivo nos últimos 30 anos da Bienal, já cumpriu sua função histórica." Para driblar essa contingência, a mostra de Bonami vai estar dividida em complexos temáticos, "ilhas no meio de um grande arquipélago". O tema "Ditadura do Espectador" parece dissolver-se na própria autópsia. A "ditadura" a que faz menção o curador não se refere a um suposto modelo de mercado a orientar os desejos visuais e sensitivos - em mão dupla entre o artista e o espectador. Nem está ali no sobretítulo da mostra revelando que estamos sempre envolvidos diretamente na obra de arte que vemos. "Mas porque seremos finalmente livres de enfrentar toda uma jornada artística que nos obrigava a dedicar nossos esforços para enquadrar as quilométricas exposições universais a uma porção mínima de proposta - a tese curatorial", considera Bonami. Ou seja: o espectador dará ou não sentido à 50.ª Biennale. "Obviamente, nós estamos obcecados pela idéia de público como um determinado e abstrato grupo de indivíduos. Mas é preciso trabalhar com o espectador individual em mente. Especialmente se você está montando uma megaexposição em que o espectador terá bem pouco tempo para examinar item por item", ele considera. "Eu não pretendo oferecer ao espectador a chave-mestra para o entendimento; minha perspectiva é oferecer a pureza da idéia representada." A mostra terá obras de cerca de 200 artistas de todo o mundo - entre eles, nomes como Damien Hirst e Andy Warhol -, espalhadas pelos 15 mil metros quadrados dos chamado Giardini, a área onde fica a bienal e seus diferentes pavilhões nacionais - incluindo o do Brasil, lá desde os anos 50. Leia mais

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