Bienal de Veneza abre espaço para a dança

Pela primeira vez a dança entra no mundo das artes plásticas da Bienal de Veneza que já havia incorporado a música e o teatro. Em 2005 o coreógrafo do evento será o brasileiro Ismael Ivo

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Por Agencia Estado
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Para celebrar a sua 50.ª edição, a Bienal de Veneza abriu espaço para a dança, convidando Fréderic Flammand, o diretor da companhia belga Charleroi/Danses - Plan K, para ser o curador do seu 1.º Festival Internacional de Dança Contemporânea. Em 2004 será a vez da norte-americana Karole Armitage e em 2005, do coreógrafo brasileiro Ismael Ivo. Enquanto a dança estréia na Bienal de Veneza, a música contemporânea realiza seu 47.º Festival Internacional, com curadoria de Uri Caine, de 12 a 21 de setembro, assim como o teatro, cujo 35.º Festival Internacional ocorrerá de 15 a 30 de outubro. O coreógrafo Fréderic Flammand é reconhecido por seu interesse na ligação dança-arquitetura e escolheu como tema Corpo-Cidade e montou uma programação com 16 espetáculos unidos por algum tipo de vínculo com aparatos tecnológicos e um ciclo de debates sobre seis cidades (Tóquio, Amsterdã, Paris, Berlim, Montreal e Nova York). "Quando Francesco Bonami (curador da Bienal de Veneza) me convidou, logo solicitei para que nosso evento acontecesse junto com o início da Bienal, pois pretendia aproveitar a presença dos muitos jornalistas que não acompanham a dança, e que estariam em Veneza para cobrir a abertura da 50.ª Bienal", conta Flammand, em entrevista exclusiva ao Estado. Dois teatros abrigaram criações vindas de 15 cidades: Charleroi (Silent Collisions, de Frédéric Flammand), Kioto (Memorandum, Dumb Type), Haia (CYP 17, André Gingras), Amsterdã (Bureau, Hans Hof Ensemble), Paris (Portraits Dansés, Philippe Jamet), Berlim (Zweiland, Sasha Waltz), Antananarivo (Compagnie Rary), Barcelona (Preludius, Gelabert/Azzopardi), Montreal (Document 3, Lynda Gaudreau), Aix-en-Provence (Near Life Experience, Angelin Prejlocaj), Johannesburgo (We must eat our suckers with the wrappers on, Robyn Orlin), Nova York (Stephen Petronio e John Jasperse), Bruxelas (Light!, Moussoux-Bonté), Londres (Nemesis, Random Dance Company) e Gent (It, Cherkaoui/ Vandekeybus). Deles, vamos destacar três vertentes distintas. Portraits Dansés, de Philippe Jamet, uma vídeo instalação onde, às vezes, acontece uma exploração coreográfica da The Clara Scotch Company - uma dessas poucas experiências que merecem o adjetivo "reveladoras". Gente de 9 a 90 anos, pobres e ricos, residentes de Calais, Nantes, Dieppe, Belfort, Roma, Ouagadougou, Saigon, São Paulo, Marrakesh, Tóquio e Nova York, todos responderam ao mesmo questionário de 16 itens. Um deles era "Cante uma canção da sua infância". Crianças abaixo de 9/10 anos cantam canções que tocam no rádio. Nenhuma canção de ninar, ao contrário de todos os outros mais velhos, que as cantam para a mesma solicitação. Depois de 6 horas, a sensação de ter entrado em contato com um dos mais preciosos materiais a respeito das questões culturais da mundialização. Light!, com Nicole Mossoux, da Mossoux-Bonté, explora a vertente corpo/imagem do trabalho da dupla de Bruxelas. Nicole dança com a sua sombra, explorando a ilusão ótica em busca da composição de diferentes formas de corpos a partir desse jogo. Random, de Wayne McGregor, aponta para a cibercultura, terra onde ele pisa, neste Nemesis que apresentou em Veneza, acompanhado de consagrados artistas locais, tais como Robin Rimbaud, um animador de fragmentos musicais, Jim Henson, um dos mais mais da animatronics (animação de bonecos), e o fotógrafo, animador e cineasta Ravi Deepres, antigo colaborador do consagradíssimo coreógrafo Saburo Teshigawara, ainda pouco conhecido no Brasil. São bailarinos de uma qualidade cintilante, que McGregor leva ao limite do ofuscamento com sua dança de fluxo frenético.

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