Bienal de SP: uma nova direção para pacificar conflitos

A chapa eleita com Pires da Costa na presidência confirma sua vocação conciliatória e continuista, devendo perpetuar as mesmas forças políticas há anos no comando

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A Fundação Bienal de São Paulo está sob nova administração. Ontem à noite, em assembléia que reuniu cerca da metade dos conselheiros da instituição cinqüentenária, foi eleita e empossada a nova chapa que terá, entre outras tarefas, a incumbência de organizar as próximas edições das bienais de arquitetura (em 2003) e de artes (2004). O cargo de presidência coube ao empresário Manoel Pires da Costa. Oriundo da área financeira, tendo sido inclusive diretor da BM&F, Pires da Costa atua agora na área de telecomunicações e dirige o espaço do Masp no centro. Para ajudá-lo na tarefa de administrar a Bienal por dois anos, foi composta uma chapa reunindo algumas figuras ilustres da sociedade e da economia paulistana, compondo desta forma uma espécie de frente única e consensual, com o objetivo de capacitar a instituição financeira, pacificar os eventuais conflitos internos - que já sacudiram a instituição recentemente - e ao mesmo tempo perpetuar as mesmas forças políticas que vem conduzindo à instituição há anos. A chapa eleita com Pires da Costa e apresentada por ele em entrevista coletiva concedida logo após sua eleição, só faz confirmar sua vocação conciliatória e continuista. O primeiro vice-presidente será Pedro Paulo Senna Madureira, "um homem das letras, que conhece essa instituição como ninguém". Além dessas qualidades elencadas por Pires da Costa, Senna Madureira também é vice-presidente da BrasilConnects, organização dirigida por Edemar Cid Moreira, que presidiu a Bienal por duas vezes. A relação entre a Bienal e essa instituição foi o estopim da crise que levou ao afastamento de alguns conselheiros em 2000. A idéia agora é a de preservar a harmonia a qualquer custo. "O espaço da polêmica é o pavilhão", resume Senna Madureira. Na segunda vice-presidência está o publicitário Luiz Sales. As duas diretorias estão ocupadas pelo empresário Aluísio Araújo (outro reforço para atrair o capital privado) e por Carlos Bratke, que até terça presidia a instituição. Como arquiteto, ele se ocupará sobretudo dos eventos relacionados à sua área. Ainda é cedo para saber os reais contornos das próximas bienais, mas Pires da Costa se diz bastante tentado a manter as coisas no mesmo curso que vinham tomando até agora. A 26.ª Bienal deverá continuar sem salas especiais de grande renome (que elevam demais o custo e ofuscam os artistas contemporâneos que deveriam ocupar o centro da exposição) e provavelmente será conduzida pelo mesmo curador da 25.ª, o alemão Alfons Hug. Ele já chegou inclusive a apresentar a Bratke (que cogitou candidatar-se à reeleição, mas mudou de idéia) um anteprojeto, que abordariam o choque de culturas, de civilizações, enfocando não mais os grandes centros urbanos, mas os grandes vazios, as terras de ninguém, como a Amazônia, os desertos... Outra novidade possível, anunciada por Bratke, é a introdução do sistema de representação nacional também na Bienal de Arquitetura, a exemplo do que acontece em Veneza.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.