Bienal abre as portas sob chuva e polêmica

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Por Agencia Estado
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Mal abriu suas portas na manhã de hoje, para um público ainda modesto - a chuva afugentou boa parte dos freqüentadores do Parque do Ibirapuera -, a Bienal de São Paulo enfrentou sua primeira confusão "conceitual", digamos assim. Uma hora após a abertura, o curador-chefe da mostra, Alfons Hug, confiscou pessoalmente as bolas de futebol da instalação Transatravessamento, do artista paulistano Ricardo Basbaum. As bolas ficavam dispostas num cercado de tela de arame, e o público podia chutá-las num muro de latão ao fundo do cercado. Em uma hora de abertura da bienal para o público, a instalação de Basbaum já era um dos hits da mostra. Por que as bolas foram retiradas? "Por causa do barulho, é óbvio", respondeu Hug, carrancudo, carregando duas bolas em meio ao pavilhão da bienal. Atrás dele, uma assistente levava outras três bolas. "Exposição de arte é para contemplar, não pode ter barulho", resmungou. "Meu Deus, isso aqui é o máximo, pura diversão!", festejava, fazendo "embaixadinhas" com uma bola, a estudante Gisele Silva, de 25 anos, poucos minutos antes de Hug fazer o confisco. Para Gisele, o convite à diversão era uma das boas marcas da mostra. O "barulho" da obra de Basbaum não é o único da bienal. Há fones de ouvidos com risadas gravadas na obra de Marcos Chaves. Há barulho de bolas de pingue-pongue em ação na sala de Nelson Leirner. Tem barulho de carrinhos e tratores movidos a controle remoto na obra do chinês Lu Hao, no primeiro pavimento. Por sinal, essa última também é muito concorrida. "Ele precisava ver São Paulo, conhecer a cultura grande", disse o artista gráfico Villa Chaves, de 47 anos, que veio de Goiânia com o filho, Felipe, de 17 anos, para mostrar a bienal. "Essa é uma viagem cultural, importante para a formação dele - tenho certeza de que, depois disso, ele não vai ser mais o mesmo Felipe", considerou Chaves, enquanto dividia com os filhos os controles remotos dos carrinhos do chinês Hao. Às 10 horas da manhã, quando abriu a bienal, havia cerca de 150 pessoas na fila, evitando a chuva no espaço sob a marquise do pavilhão. Elas dividiam espaço na fila com um automóvel Maverick amarelo que tinha sido destruído a marretadas na noite anterior durante performance na abertura da bienal para convidados. O primeiro da fila era o arquiteto pernambucano Romero Duarte, de 36 anos, que vive em Boa Viagem e já viu três bienais. "Essa mostra atinge moralmente os conceitos e as pessoas, traz mudanças no modo de abordar a arte", ponderou Duarte, momentos antes de entrar no prédio. Pouco mais de 500 pessoas tinham percorrido toda a mostra até o início da tarde. De qualquer modo, o público estava se divertindo bastante com a bienal de R$ 15 milhões, num clima de grande playground artístico. Além de um grande número de obras interativas, os artistas também contribuíam para criar envolvimento com o espectador. Era o caso do japonês Orimoto e as fotos que fez dos avós. O artista em pessoa ciceroneava o público em meio ao seu trabalho.

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