Bieber de maior

Em Believe, seu novo disco, o astro teen tenta amadurecer sem alienar sua extensa base de fãs

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Por Roberto Nascimento
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A ausência da franja, os cavalos de pau ao volante de um veloz e furioso, as melodias lascivas sussurradas no ouvido de uma gatinha: um curto passeio pelo universo biebermaníaco em 2012 deixa claro que Justin Bieber passou pela puberdade e, aos 18 anos, tenta incorporar sua maturidade física à idolatrada imagem de colírio teen. Não se trata de uma tarefa simples. A julgar pela variada faixa etária das fãs que lotaram o Estádio do Morumbi em seu show no ano passado (tinham de 4 a 16 anos), o garoto prodígio do r&b, fenômeno da internet desde os 14, tem de virar homem sem deixar de ser garoto se não quiser alienar partes da massa de "beliebers", trocadilho com "believers", ou crentes, que apelida seus fãs. Uma adolescência preservada ou uma maturidade precipitada custaria caro. Bieber é capa da revista Forbes do início de junho, em uma reportagem que revela um lucro de US$ 108 milhões nos últimos dois anos. Por tratar-se de uma marca de tal calibre financeiro (108 é só o que o garoto levou) a transição artística é feita com melindre chinês em seu novo disco, Believe, que chega às lojas brasileiras nesta terça-feira. Além da franja picotada, uma sessão de fotos o retrata ao sair de um ringue de boxe (em luta falsa) e um programa de rádio mostra Bieber rimando sobre um beat de Jay-Z e Kanye West (acreditem se quiserem, caros céticos da música pop contemporânea, mas o menudo canadense leva jeito para a coisa. Veja no vídeo Justin Bieber Exclusive Rap, no YouTube). O que decididamente o distanciou da imagem de namorado ideal para a sua filha de 14 anos criada com o sucesso de seu disco My Worlds 2.0. No entanto, há mais de um tom em sua estratégia atual, o que corresponde à variedade das canções de Believe. Boyfriend, o single do disco, cujo vídeo tem as derrapadas de Bieber em frente de garotas mais velhas, que certamente não vão às matinês das beliebers, é um beat esparso com melodia sensual, mas versos que não assustarão os pais: "Baby, arrisque ou você nunca saberá. Eu tenho dinheiro nas minhas mãos para gastar... Relaxando ao lado da lareira, comendo um fondue, eu não sei de mim, mas sei de ti", canta. Trata-se de rimas ridículas se comparadas ao teor explícito das letras que costumam acompanhar o gênero, mas - e neste ponto entra o talento do menino - Bieber faz a canção funcionar. Outras também indicam um público alvo abrangente. As Long As You Love Me e All Around The World são hits de pista. Por serem as primeiras faixas de Believe, e por passarem cerol sonoro na voz de Bieber, dão a impressão de que o próprio virou um genérico enlatado, marionete de produtores de dance music para as pistas de Ibiza. Mas estas faixas, que podem ser consideradas as mais adultas de Believe, logo abrem alas para faixas românticas, mais lentas, de r&b contemporâneo, que são o grande trunfo não só do disco, mas também de Bieber como cantor. Catching Feelings, ou Die in Your Arms resumem o brilho de uma voz que, ao contrário de outros nomes que transitam em seu patamar de popularidade, é verdadeiramente talentosa. É curioso que, nas canções românticas, em que Bieber se demonstra mais vulnerável, não só têm mais personalidade do que as tentativas de pista, mas também soam mais maduras (e masculinas). Bieber é um crooner nato. Embora seu sucesso possibilite que a qualidade de suas canções seja algo secundário, o que faz com que qualquer uma de Believe, possa manter-se entre as dez mais ouvidas do ano, o disco se torna mais vibrante nos momentos em que Bieber exprime paixão descarada. Assim, o que transparece no disco que seu amdurecimento aconteceu de forma mais natural do que se esperava, evitando guinadas radicais e mantendo seus pontos fortes. A diferença é que as românticas de Believe devem fazer sucesso não só com a molecada, mas também com seus pais. As colaborações do disco também são comedidas. Até Nicki Minaj, provavelmente a popstar mais temida pelos pais, rima sem profanidades em Beauty and a Beat. Drake, o respeitado cronista das incertezas e solidões que acompanham a fama, participa como irmão mais velho em Right Here. A produção também é variada. Há uma do lendário hitmaker Max Martin, outra de Diplo, o beatmaker mais incensado do momento. Darkchild fica com duas faixas, assim como The Messengers. O lançamento de Believe será seguido, em setembro, por uma turnê mundial. Apenas as datas americanas foram anunciadas.

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